http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/garotinho-tenta-opor-gays-e-evangelicos-no-rio
Ex-governador põe a religião na campanha e acusa prefeito do Rio de “fingimento” por defender passeata LGBT e, ao mesmo tempo, fazer campanha com fieis. Tiro saiu pela culatra: coordenador de Rodrigo Maia abandona a equipe
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
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Evangélicos se reúnem na praia de Botafogo, no Rio.
“O Rio é uma cidade diversa. Tenho desprezo por quem tem ódio. Tenho
horror a esses ódios. A pessoa pode ter a religião dela, ser evangélico,
crente, orar o dia inteiro, e o outro pode ser gay. O que um tem a ver
com a vida do outro? Sou a favor da liberdade, da diversidade”, afirmou
Eduardo Paes
Anthony Garotinho demorou. Mas ‘abalou’. Pai da candidata a vice na
chapa DEM-PR que disputa a prefeitura do Rio, o ex-governador deu o ar
da graça na sexta-feira, no horário eleitoral gratuito da TV, pedindo
votos para Rodrigo Maia e Clarissa. Numa tentativa de movimentar uma
candidatura que ainda patina em 4%, Garotinho recorreu a um tema que
promete fazer barulho, opondo os eleitores evangélicos e os
homossexuais. “O prefeito vai à passeata gay, apoia a formação da
família gay, usa dinheiro público vendendo o Rio como capital mundial do
turismo gay e, depois, vai às igrejas evangélicas e diz ‘Glória a Deus,
Aleluia’. Isso é fingimento e hipocrisia. A quem Eduardo Paes quer
enganar? Ele quer enganar ao eleitor”, disse Garotinho na TV.
O abalo, por enquanto, foi mais forte dentro da própria candidatura. O
discurso de Garotinho na sexta-feira pegou mal: fez com que o
coordenador do programa de governo de Rodrigo Maia, Marcelo Garcia,
abandonasse a campanha. Garcia, ex-secretário de Assistência Social da
administração Cesar Maia, chamou de "oportunismo político" o conteúdo da
aparição do ex-governador e lembrou que, na gestão de Cesar, a parada
gay era apoiada. Em carta a Garotinho, Garcia explicou o porquê de
largar a campanha: "Na última sexta feira, ficou claro que nós dois
sempre seremos de lados opostos nesta vida. Eu acredito na igualdade e
no direito universal das pessoas de serem respeitadas. O senhor não
acredita numa vida de igualdade. O senhor deixa claro que tem outra
posição sobre gays, lésbicas, travestis e transexuais", escreveu,
expondo a dificuldade de conciliar correntes políticas antagônicas.
Garotinho e Cesar Maia, enquanto estiveram no poder, viviam às turras.
Garotinho é um comunicador experiente. E viu na postura de Eduardo Paes
um flanco aberto para ataques. O objetivo é criar no eleitor evangélico
uma espécie de aversão ao candidato à reeleição. Ou seja: se Paes
defende os gays, deve ser necessariamente ruim para os evangélicos. O
problema, para Garotinho, é que como o prefeito também apoiou eventos
como a Marcha para Jesus, tem a seu lado alguns dos líderes de igrejas
evangélicas.
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Famílias Garotinho e Maia se unem na corrida à prefeitura do Rio
A estratégia mira nos votos da zona norte da cidade. A sobreposição dos
mapas eleitorais feita pelo cientista político da PUC-Rio Cesar Romero
Jacob mostra que, dividindo-se o Rio ao meio, a parte norte é onde
reside a maioria dos evangélicos. Sobretudo nos bairros de Campo Grande,
Santa Cruz e Bangu, todos na zona oeste, a concentração de pentecostais
é grande. A cidade do Rio tem 23,3% de evangélicos, percentual maior do
que a média nacional, de 22,2%, segundo o Censo de 2010. A estratégia
de aliar dois figurões da política do Rio – Cesar Maia e Antony
Garotinho – foi agregar votos da metade sul e da metade norte,
respectivamente.
Os pais tentam transferir votos. Mas também trouxeram um problema e
tanto: Rodrigo Maia tem, segundo o Datafolha, rejeição de 42% - é o
campeão nesse quesito no Rio. O chamado aos evangélicos feito por
Garotinho é uma faca de dois gumes. Entre os aliados reunidos por Paes
estão líderes de peso, como o pastor Silas Malafaia. Ao mesmo tempo, o
peemedebista tem apoio do movimento gay, pelo incentivo dado pela
prefeitura às passeatas LGBT.
Dias antes de Garotinho aparecer na televisão apontando o dedo para as
políticas para os gays e evangélicos da atual gestão, o prefeito Eduardo
Paes deu entrevista ao site de VEJA e defendeu um governo amplo. “O Rio
é uma cidade diversa. Tenho desprezo por quem tem ódio. Tenho horror a
esses ódios. A pessoa pode ter a religião dela, ser evangélico, crente,
orar o dia inteiro, e o outro pode ser gay. O que um tem a ver com a
vida do outro? Sou a favor da liberdade, da diversidade”, disse Paes.
A declaração de Garotinho já rendeu problemas para Rodrigo Maia. Na
entrevista ao RJTV, da Rede Globo, nesta segunda, o candidato afirmou
que o objetivo de Garotinho era mostrar a “hipocrisia” de Paes. Mas
reafirmou o caráter ‘conservador’ do DEM. Para o cientista político
Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio, a entrada de Garotinho na campanha
alimentando uma oposição entre gays e evangélicos visa a ‘roubar’ votos
de Paes. “Parece que a fala do Garotinho foi uma tentativa de levar os
pastores pentecostais que apoiam Paes para o lado do Rodrigo Maia. Na
contramão disso, perde votos na metade sul, que é mais liberal. Há um
tempo, Paes conseguiu contentar católicos, evangélicos e gays. Ele está
comprometido com a Jornada Mundial da Juventude (maior evento católico
do mundo), apoiou a Marcha para Jesus (evangélica) e deu suporte à
parada LGBT. O Paes não entrou em bola dividida”, explica Jacob.
Voto evangélico – O discurso meramente voltado para os pentecostais não ajudou candidatos que concorreram a cargos majoritários. No Rio, Marcelo Crivella, atual ministro da Pesca, tentou ser prefeito em 2004 e 2008 baseado na rede de igrejas evangélicas. Nunca conseguiu vencer. Ele teve bom desempenho em bairros da zona oeste pobre e na zona da Leopoldina. Nos locais nos quais o Rio é mais católico, a votação de Crivella foi pífia. “Há muitas cidades dentro da cidade. Precisa ter o mínimo de rejeição possível”, explica Jacob. Garotinho também concorreu à Presidência, em 2002, e concentrou a campanha nos evangélicos. O resultado foi uma baixa votação entre os fieis de outras religiões.
Voto evangélico – O discurso meramente voltado para os pentecostais não ajudou candidatos que concorreram a cargos majoritários. No Rio, Marcelo Crivella, atual ministro da Pesca, tentou ser prefeito em 2004 e 2008 baseado na rede de igrejas evangélicas. Nunca conseguiu vencer. Ele teve bom desempenho em bairros da zona oeste pobre e na zona da Leopoldina. Nos locais nos quais o Rio é mais católico, a votação de Crivella foi pífia. “Há muitas cidades dentro da cidade. Precisa ter o mínimo de rejeição possível”, explica Jacob. Garotinho também concorreu à Presidência, em 2002, e concentrou a campanha nos evangélicos. O resultado foi uma baixa votação entre os fieis de outras religiões.
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