ESCONDERAM-VOS NA ESCOLA
BUCKINGHAM, AMANTE DE DOIS REIS, PAI E
FILHO (1)
Por
MICHEL LARIVIÈRE
Proclamado rei da Escócia em 1567 com a idade de um ano por
nobres revoltados contra sua mãe Maria Stuart, Jacques VI vive sua infância sob
a copa de diversos regentes. Inteligente, ele se beneficia de uma brilhante
educação humanista graças a George Buchanan, que tinha sido o professor de latim
de Montaigne. Jacques jamais teve amantes, é para os rapazes que ele volta seus
desejos. Desde sua adolescência ele manifesta uma suave amizade por Patrick Gray
e por Alexandre Lindsay, antes de cair apaixonado por seu primo Esmé Stuart
d´Aubigny, que chega da França. Aubigny inicia o jovem rei nos prazeres
praticados na corte de Henrique III e vai permanecer longo tempo o favorito
titular. Jacques eleva seu amante à dignidade de duque de Lennox.
Mas os condes protestantes reprovam abertamente ao favorito
“por governar o rei pela luxúria”. Em agosto de 1582, eles conseguem sequestrar
Jacques VI, para aprisiona-lo no castelo de Rutwen. O rei, temendo que
assassinem seu amante, cede às exigência dos revoltados: ele aceita que Lennox
seja exilado na França onde ele morre no ano seguinte após ter ordenado que seu
coração fosse embalsamado e enviado ao rei da Escócia que só tinha 16
anos!
Educado na religião calvinista, Jacques VI da Escócia, após
ter habilmente bordejado entre os partidos católico e protestante, deve escolher
seu lado. Sem estado d´alma, com a promessa de lhe suceder, ele deixa a rainha
Elisabeth I da Inglaterra aprisionar e decapitar sua mãe, Maria Stuart, chefe
dos católicos.
Mas o rei deve pensar em assegurar sua sucessão: ele se
casa em 1590 com a princesa Ana da Dinamarca. Ele terá três filhos, dos quais
Charles I que, em 1625, esposará Henriqueta, irmã de Luiz XIII, e a princesa
Elisabeth que, esposando um príncipe alemão, será a base da Casa de
Hanover.
Tendo assegurado sua dinastia, o rei se vangloria então sem
vergonha: “A rainha é a única mulher com a qual eu deitei!”
Em 1603, Jacques VI da Escócia é recompensado pr ter tomado
partido dos protestantes. Ele recolhe a herança da rainha Elisabeth I, sem
filhos, e torna-se rei da Inglaterra sob o nome de Jacques I.
Sua homossexualidade é conhecida da Corte, como era o
lesbianismo da defunta rainha. “Nós tivemos o rei Elisabeth, agora, nós temos a
rainha Jacques!”, dizem os Londrinos.
Esse coroamento reunindo a Grã-Bretanha e a Escócia é um
triunfo, pois, além disso, o calvinismo e a Igreja anglicana se reconciliam
contra o papa, seu inimigo comum. Mas essa não é a opinião do rei, que, graças a
união dos dois reinos, quer impor a seu povo uma única e mesma religião. Erro de
julgamento! Ele desagrada os puritanos e atrai o ódio dos católicos, Se bem que
eles não representem que uma vintena da população, os “papistas”, como se diz
então, tentam em 1605 com a cumplicidade da Espanha um golpe de Estado conhecido
sob o nome de “Conjuração das pólvoras”, que visa, por uma gigantesca explosão,
matar o rei, todos os lordes e os deputados das Comunas. Uma traição faz
descobrir o complô. Os católicos são agora submetidos a leis de exceção, sua
religião é interditada, os padres expulsos.
Sua posteridade e seu poder assegurados, o rei não tema
mais se mostrar com charmosos efebos que atuam, travestidos, os papéis de
mulheres nas peças de Shakespeare e de Marlowe. Como ele se permite beijá-los na
boca em público, seus sujeitos podem facilmente adivinhar o que ele faz no
privado.
Mas o rei não se contenta com seus amores furtivos, ele
precisa de um companheiro para todos os instantes do qual ele possa apreciar a
beleza, o espírito e a conversação. Os favoritos titulares se sucedem: John
Ramsey, James Ray, promovido a visconde de Doncaster depois conde de Montgomery,
Robert Carr, magnífico rapaz que é feito gentleman de Chambre e conselheiro
privado em 1612, conde de Somerset em 1613.
Tornando-se o primeiro personagem da Corte, o comportamento
insolente de Carr contribui para o declínio da popularidade do rei. Jacques I se
cansa desse amante bissexual e o aprisiona com sua esposa na torre de Londres
onde o casal morre em 1622.
É chegada a hora de Buckingham... O arcebispo de
Cantorbery, conhecendo os gostos do rei e desejando que o novo favorito lhe deva
seu lugar, faz de modo com que o belo George Villiers encontre o soberano em
1615 durante um divertimento dado pelos estudantes de Cambridge.
George tem 22 anos, magro, bem grande, as pernas longas e
afiladas, ele tem o porte bem formado, uma mão delicada com dedos finos, uma
boca sensual com lábios perfeitamente desenhados, um nariz reto, olhos
maliciosos e carinhosos. Ele respira saúde, alegria de viver, desejo de ser
amado. O coração de Jacques I derrete como neve no sol. O rei, então com idade
de 48 anos, cai loucamente apaixonado.
A ascensão do novo favorito é fulgurante: visconde em 1616,
conde em 1617, e enfim duque de Buckingham em 1623. O rei tem o hábito de
partilhar o poder com o amante titular. Todos os favoritos precedentes tinham
recebido responsabilidades políticas, quais quer que fossem suas capacidades.
Buckingham é inteligente, mas ele despreza o bem público. Ele sonha sobretudo em
se enriquecer e a colocar sua família e seus amigos obtendo títulos e
privilégios. Sua mãe o segue na ascensão: condessa em 1618, marquesa em 1619,
duquesa em 1623. O jovem príncipe de Galles, Charles, fica primeiramente
enciumado pelos privilégios exorbitantes que obtém o favorito de seu pai. Mas
Buckingham age com tanta habilidade que consegue logo cercar também o herdeiro
do trono... (A ler na Têtu de outubro.)
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