05/01/2012
Estranho fruto, era assim que parecia para a escrita do judeu Abel Meeropol
(que usou o pseudônimo de Lewis Allan) e para a voz da negra Billie Holiday, os
linchamentos de negros no sul dos Estados Unidos na década de 1930. Um fruto de
sangue, que arde ao fogo. “Here is a strange and bitter crop” [“Temos aqui uma
estranha e amarga colheita”].
A música, um dos maiores sucessos de Lady Day, é uma resposta mais que além à
altura contra os racistas e seus atos de violência. Uma nota musical profunda
contra o soco no estômago. E eles nunca desistiram. Foi uma longa sinfonia até
os negros conseguirem seus direitos civis nos Estados Unidos.
Em 2012, no Brasil, os homossexuais são hoje o estranho fruto. Na virada do
ano, um casal de lésbicas
sofreram violência física depois que recusaram paquera do agressor.
Já no dia 02 de janeiro, um idoso homossexual foi assassinado por
jovens depois de relação sexual.
No dia 04, homossexual foi executado
em estrada de Alagoas. No mesmo dia, uma torcida organizada
exibe com orgulho: “A Homofobia é verde”, em alusão ao time que
torcem. Em Tocantins, no dia 06, um professor gay foi morto a
facadas.
Diante tanta barbárie só nos primeiros dias desse ano, ainda com sob a
decoração natalina, casais gays andam de mão dadas pela Paulista, numa espécie
de resistência amorosa contra tanta violência. Assim como os negros, a ideia de
resistência é feita de maneira mais natural possível. E a possibilidade de
existência e respeito a esse estranho fruto se impõe, se imporá.
Escrito por Vitor Angelo às 23h05
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