quarta-feira, maio 25, 2011

A Arte do Diálogo

Rev. Márcio Retamero

É possível que o movimento social organizado LGBT encontre um espaço de diálogo com os evangélicos, ainda que uma parcela mínima deste grupo?

Sim, eu creio que é possível! Tenho percorrido muitos “blogs” evangélicos na internet e lido textos com opiniões embasadas que deveriam ser ouvidas pelo movimento LGBT.

Creio que os evangélicos – e insisto que estou aqui falando de um grupo minoritário entre os evangélicos – também desejam nos ouvir mais. Muitos ruídos de ambos os lados tem produzido muita discordância sem razão alguma.

No VIII Seminário LGBT do Congresso Nacional, um deputado da Frente Parlamentar Evangélica esteve presente, por alguns minutos, no plenário daquele evento. Sua presença pacífica, ao contrário de outro deputado que esteve na porta do auditório somente no objetivo de perturbar a ordem, não é um sinal positivo?

Li agora mesmo um texto interessante de uma professora evangélica. Ela traça uma linha de comparação entre os sofrimentos dos LGBT e de alguns cristãos. Eu nunca tinha lido algo assim, e mais, li no mesmo espaço outros textos que advogam a laicidade do Estado e a necessidade de leis que protejam as pessoas LGBT, principalmente no caso da união estável.

Aliás, tenho percebido entre essa minoria evangélica o raiar da consciência da legitimidade da união estável homoafetiva e eles têm escrito muito, com vistas ao esclarecimento dos seus leitores, sobre o assunto e sempre apontam a questão da separação do Estado e da Igreja.

A coisa muda de figura com relação ao PLC 122, mas acredito que são os ruídos insistentes que não tem permitido o pleno entendimento, ou o entendimento parcial, pelo menos.

Este canal de diálogo precisa ser aberto com urgência! Precisamos perceber que o tempo favorável para um diálogo aberto, franco, honesto e sem armas de ambos os lados, chegou. Não importa se o outro lado ainda é um grupo pequeno, intelectualmente diferenciado da grande maioria dos evangélicos, mas são evangélicos e são evangélicos que escrevem em sites e blogs, são pessoas lidas por milhares de evangélicos. Nem sempre os grandes feitos nascem grandes. É preciso iniciar, abrir o canal, conversar e avançar.

Os sinais do tempo do diálogo se mostram. Creio que não podemos perder o bonde da História. Sem este diálogo, não conseguiremos avançar.

O kit Escola sem Homofobia, por exemplo, pode ser o início; tenho percebido que o PLC 122 é outro assunto que eles precisam entender e nós precisamos escutar o que eles têm a dizer.

Recebi um e-mail ontem de um integrante deste grupo. Eles assinam um blog evangélico muito lido – e muito odiado também – pelos evangélicos de vertente fundamentalista. Este blog é muito crítico com as questões evangélicas dos nossos dias. No tal e-mail, o dono do blog me informou que em breve eles publicarão uma pesquisa séria que eles realizaram através do BEPEC [http://www.bepec.com.br/] sobre “O Crente e o Sexo” e que os resultados são surpreendentes e que vai enfurecer muitos fundamentalistas. Disse que quer minha declaração para a publicação da pesquisa e daí eu entendi que eles descobriram o que nós já sabíamos: que o índice de homossexuais nas igrejas é altíssimo.

O convite para escrever uma declaração sobre a pesquisa que será publicada na próxima semana me pegou, sinceramente, de surpresa! Geralmente tais pesquisas não são publicadas, ficam escondidas, quanto mais pedir que um pastor assumidamente homossexual escreva algo sobre os resultados e publicar tal declaração.

Faço um apelo público ao deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ), ao presidente da ABGLT, Toni Reis, à senadora Marta Suplicy (PT/SP) e a todos e todas que podem nos ajudar na abertura e concretização deste diálogo com esta parcela dos evangélicos.

O esforço não será vão.

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