sábado, abril 16, 2011

CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA DA UFMG, ESPECIALMENTE AO DIRETOR PARA ASSUNTOS ESTUDANTIS/UFMG

15 de abril de 2011
Prezado Professor Luiz Guilherme Knauer (Diretor para Assuntos Estudantis da UFMG),
Pude ver hoje suas declarações sobre o caso de agressão a estudantes gays na Faculdade de Letras (FALE) no programa "Circuito" da TV UFMG. Como estudante dessa instituição desde 2004, fiquei admirado ao ouvir as propostas da Diretoria para Assuntos Estudantis referentes aos últimos casos de homofobia na UFMG. Tenho conhecimento de várias denúncias formalizadas de homofobia na UFMG (com repercussão nacional inclusive), de debates públicos com participação da reitoria, onde os casos foram apresentados e de manifestações contra as agressões e violências cotidianas sofridas por gays, lésbicas, travestis e transexuais.
Entendo que sua nomeação para o cargo de Diretor para Assuntos Estudantis é fato recente. Mas acredito que a desinformação que você apresenta na reportagem é mais um analisador dos modos como a UFMG, em especial a administração central, tem tratado esse grave problema. Ou seja, as denúncias, as várias manifestações realizadas no campus Pampulha e as reivindicações apresentadas à Reitoria não se tornaram objeto relevante para que a administração central da universidade se atentasse para oferecer qualquer resposta aos/às estudantes e professores/as envolvidos/as nesse debate. Nem sequer, a antiga direção para assuntos estudantis teve o interesse de repassar esse debate para que a nova gestão se inteirasse. O que podemos entender disso? A questão da homofobia não é um problema com que a Universidade quer se envolver, pelo contrário parece mesmo que a UFMG quer silenciar? Talvez seja ainda mais grave: a Universidade, em especial a administração central, não entende que a violência contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais seja um problema social? Daí tanto desinteresse?
Ainda gostaria de manifestar mais uma indignação quando vi sua fala na reportagem. Impressionante como em nenhum momento o senhor cita a proposta de uma campanha específica de enfrentamento à homofobia e de respeito à diversidade de orientação sexual e de identidade de gênero. A única solução que o senhor apresenta é o da investigação do caso e punição. Solução importante, claro. Mas insuficiente para o combate ao preconceito e discriminação a que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais são submetidos/as na Universidade e na sociedade. A solução apresentada pelo senhor exige que as vítimas, já vulnerabilizadas, tenham que registrar a denúncia. Quando não há denúncia, não há caso a ser investigado. Se não há caso a ser investigado, não há homofobia. Parece-me que essa linha de raciocínio é a que orienta a inércia cúmplice da administração central da UFMG nesses casos. Lamentável. Esquece-se que o registro da denúncia, às vezes, exige demais da vítima, já em situação vulnerável depois de uma violência física. Exige, muitas vezes, exposição pública, o que pode gerar mais violência. E por fim, os resultados são baseados na impunidade. Exemplo disso foi o caso de agressão ao estudante de artes visuais na moradia universitária. O senhor se lembra desse caso? A reitoria instaurou Comissão de Processo Disciplinar, mas não houve divulgação da apuração disso. Qual punição foi dada ao agressor? Talvez esteja indicado neste relatório da comissão que nunca veio a público.
Uma política de enfrentamento à homofobia na UFMG não exige que haja denúncias. Não defendo com isso que os casos não devam ser investigados. Ao contrário, defendo que somente a investigação dos casos é insuficiente. Uma política de enfrentamento à homofobia não exige maior exposição das vítimas e poderia ter um alcance muito maior. No entanto, uma política de enfrentamento à homofobia exige que a Universidade se posicione com relação ao tema. E, definitivamente, isso é mais difícil para a administração, tão reticente em se posicionar nessas situações. Uma pena. Fica a questão se esta dificuldade não se traduz como um silêncio cúmplice que cria legitimidade para que atos homofóbicos aconteçam todos os dias nos mais diversos espaços acadêmicos. Qual o problema da Universidade em se posicionar nesses casos, professor?
Em mais um caso de violência à gays na UFMG, deixo o registro da minha indignação.
Leonardo Tolentino
Mestrando em Psicologia/UFMG
 Link para a reportagem do Programa Circuito da TV UFMG:

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