ÉPOCA |  BRASIL   LGBT    19/02/2011    Jair Bolsonaro: "Vamos fazer de tudo para enterrar"Capitão do Exército, o  deputado não reconhece a legitimidade da discussão sobre direitos dos  homossexuais Ana Aranha e Janine Moraes    ÉPOCA - Como vê a criação da Frente Parlamentar pela  Cidadania GLBT?   Jair Bolsonaro - O primeiro passo para desgraçar um país  é mexer na célula da família. Eles vão atacar agora o ensino fundamental, com o  "kit gay", que estimula o "homossexualismo" e a promiscuidade. Tem muito mais  violência no país contra o professor do que contra homossexuais. Quando eles  falam em agressões, é em horário avançado, quando as pessoas que têm vergonha na  cara estão dormindo. A regra deles é a porrada e querem acusar nós, os normais,  os héteros.   ÉPOCA - O senhor não teme  estimular a violência com essa retórica?   Bolsonaro - Negativo. Só  quero que a opção sexual se revele na intimidade do quarto, não obrigar um padre  a casar um gay. O bigodudo vai dar um beijo na boca do careca, na frente dos  convidados, e isso é legal?   ÉPOCA - Como vai ser o  diálogo com o deputado Jean Wyllys?   Bolsonaro - Vou ter atrito  com ele no campo das ideias e dos projetos, que vamos fazer de tudo para  enterrar nas comissões. Se depender de mim, e de muitos outros, não vai para a  frente. Em nome da família e dos bons costumes. Eles vão querer o quê? Vamos  colocar um espanador na orelha? Vão vender os serviços de "homossexualismo"  deles, é isso?   ÉPOCA - Se a homofobia  virar crime, o senhor vai parar de criticar os gays?   Bolsonaro - Tenho  imunidade para falar. Não vou medir palavras. Eu defendo a pena de morte, que é  mais grave que criticar HOMOSSEXUAL. O pessoal me chama de retrógrado,  dinossauro, mas a verdade é que o Brasil está piorando desde o fim do regime  militar.  | 
ÉPOCA |  BRASIL   LGBT    19/02/2011    Jean Wyllys: "O movimento GLBT chegou"O deputado estreante pretende  propor o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, uma evolução da união  civil   Ana Aranha   ÉPOCA - Qual é a pauta da  Frente GLBT?   Jean Wyllys - A defesa do  projeto Escola Sem Homofobia. Também vou protocolar o projeto do casamento civil  (entre pessoas do mesmo sexo). Não é "casamento gay". Isso provoca equívoco  quanto à noção do sacramento. O Estado é laico, e o casamento é um direito  civil. Se os homossexuais têm todos os deveres civis, então têm de ter todos os  direitos. E tem o projeto que criminaliza a homofobia, desarquivado pela  senadora Marta Suplicy, parte da Frente no Senado.   ÉPOCA - Como é a reação a  suas ideias?   Wyllys - Meu Facebook foi  tirado do ar em uma ação orquestrada. É natural que minha presença na Câmara  provoque uma reação. O movimento GLBT chegou ao Congresso.   ÉPOCA - Como vê a reação  contra o programa que combate a homofobia na escola?   Wyllys - É uma ignorância  que persiste por má-fé. O material não ameaça os valores cristãos. Pelo  contrário, ele assegura algo que é valoroso para os verdadeiros cristãos: o  valor da vida e o respeito ao outro. Quem fala o contrário, fala por má-fé,  porque não quer ver seus espaços de poder ameaçados.   ÉPOCA - O deputado  Bolsonaro diz que o material incentiva a homossexualidade.   Wyllys - Bolsonaro é a  caricatura de um deputado nostálgico de tempos sombrios de ditadura e repressão  às liberdades. Às vezes penso que nem ele acredita no que diz. É mais para  produzir um efeito midiático e despertar o que há de pior nas pessoas para ter  ganho eleitoral. Ele faz uso da ignorância popular e dos preconceitos que são  reproduzidos e dos quais as pessoas não se livram exatamente porque não há um  projeto sério que radicalize na defesa dos direitos humanos no  país.  | 
ÉPOCA |  BRASIL   LGBT    19/02/2011    A frente gay no paredão do CongressoVencedor do programa BBB, o  deputado Jean Wyllys tenta criar uma bancada em defesa dos direitos dos  homossexuais, mas esbarra na resistência dos parlamentares com aversão ao  tema   Ana Aranha   A  chegada do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), primeiro gay assumido a levantar a  bandeira do movimento, provocou agitação no Congresso. Liderado pelo deputado  Jair Bolsonaro (PP-RJ), um grupo começa a se alinhar em uma bancada informal  antigay. Ela é formada por deputados da Frente Evangélica, somados aos da Frente  da Família e a outros que compartilham a contrariedade em ver a discussão sobre  direitos homossexuais avançar.   Wyllys  começou seu mandato na ofensiva. Ele vai propor um projeto de lei que institui o  casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, em vez de insistir apenas na  regulamentação da "união civil" - termo adotado por alguns integrantes do  movimento gay, para evitar a discussão no campo religioso. "Tem de ser casamento  civil porque é o mesmo direito para todos", afirma.   "Quando um cônjuge morre, o parceiro da  união estável só tem direito a herança se não houver nenhum herdeiro direto. Já  no casamento, ele é herdeiro direto." Sua primeira ação, como deputado, foi  recolher assinaturas para a Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT (Gays,  Lésbicas, Bissexuais, TRAVESTIS, TRANSEXUAIS e  TRANSGÊNEROS).   Na  semana passada, Wyllys sentiu uma pequena demonstração do incômodo gerado por  sua movimentação. Menos de 24 horas depois de ter começado a percorrer a Câmara  pedindo assinaturas para a Frente, sua página no Facebook foi bloqueada. Isso  ocorreu porque uma série de usuários da rede fez uma ação coordenada para  denunciar a página como falsa. Wyllys diz que sabia que sua presença iria  provocar reação e que está preparado para o embate. Jornalista e professor  universitário, ele demonstrou habilidade para o debate público quando ganhou o  programa Big Brother, em 2005, contra um grupo de participantes que tinham em  comum o orgulho da masculinidade. Na arena política, porém, vai enfrentar  opositores mais experientes.   A  principal voz na Câmara contra a discussão sobre direitos dos homossexuais é a  de Bolsonaro, deputado no sexto mandato e capitão do Exército. Enquanto os  representantes da Frente Evangélica e os da Família medem as palavras ao tecer  críticas aos projetos que combatem a homofobia, Bolsonaro é desabrido e promete  enterrar os projetos do colega (leia a entrevista).   Segundo João Campos (PSDB-GO), líder da  bancada evangélica, o grupo respeitará as posições de Wyllys e de sua Frente. Um  dos pontos de atrito entre eles é o material contra a homofobia, a ser  distribuído pelo Ministério da Educação nas escolas. "Somos contra  discriminação, mas não queremos que o governo faça apologia da  homossexualidade", diz Campos.   No  Senado, a Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT é liderada pela senadora Marta  Suplicy (PT-SP), que desarquivou o projeto de lei que torna a homofobia crime.  Marta e Wyllys começam a procurar parlamentares simpáticos a seus projetos.  "Vamos atrás dos que se inclinam a nos apoiar, mas não têm coragem por questões  eleitorais", diz Marta. Não foi difícil mapear o inimigo. Wyllys precisa, agora,  encontrar os aliados para o dia do paredão.  | 
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