sexta-feira, setembro 24, 2010

Transexuais - redesignação sexual


Edição de 19/09/2010




Cirurgia ganha espaço no SUS; transexuais correm para realizar o sonho de mostrar o que são de verdade



Cada vez que olho no espelho tenho a mágoa de ver o órgão masculino, os pelos crescendo, a voz engrossando". A estudante de psicologia Lyah Santos Correa, 29 anos, convive desde a infância com a incompatibilidade entre o corpo masculino e a mente feminina. Ela é transsexual, tem uma identidade de gênero oposta ao sexo com o qual nasceu. Liah, nome que escolheu ainda criança, se sente mulher. Não gosta de revelar o nome presente no seu registro de nascimento porque não condiz com sua identidade. Hoje, ela briga na justiça para alterar seu registro civil, uma forma de cessar um dos constrangimentos que vivencia cotidianamente: ter que explicar as diferenças entre as informações contidas na cédula verde e a forma como ela se apresenta em sociedade.
Dificuldade é uma palavra presente na sua história de vida. Ela foi pressionada pela família a ter gostos e hábitos masculinos. Embora preferisse conversar e brincar com as amigas, teve que se entreter com brincadeiras de meninos.
A repressão à identidade feminina durou até os 25 anos. Foi quando ela amadureceu a personalidade, assumiu o atual nome, a feminilidade e as roupas de mulher. Antes, um esforço intenso foi empenhado para repreender a sexualidade diante das cobranças da família e da Igreja. "Nossa sociedade é machista, racista e homofóbica", disse.
Ela conta que enfrenta diariamente o preconceito em Belém. A discriminação é explícita ou velada. São grosserias desencadeadas pela diferença entre a fotografia da identidade e a sua aparência atual, risadas debochadas, olhares repreensivos e indiscrições.
Por outro lado, os colegas de faculdade e outras pessoas que fazem parte de sua vida social a respeitam e a tratam como mulher. Uma relação conquistada com a convivência.
"O nosso preconceito é baseado naquilo que não sabemos". Na opinião da estudante, permitir que as pessoas a conheçam tornam menos frequentes os comportamentos preconceituosos.
Ela mora em um pensionato, longe dos familiares. A distância talvez justifique o fato deles não aceitarem sua sexualidade. "Continuo sendo um choque pra minha família. Não me vejo como homem". Liah espera ansiosa pela "redesignação sexual" - a cirurgia de troca do órgão sexual.
"No Pará não há sistema de saúde (que ofereça) esse tipo de cirurgia". Enquanto isso, a afirmação da identidade feminina começa pelo papel, com a troca do registro civil. "Eu como cidadã tenho o direito de ter o nome com o qual me identifico".
Segundo ela, embora a legislação atual apenas admita a troca do prenome após a realização da cirurgia de redesignação, há juristas que entendem que os transsexuais têm direito à troca do registro civil, mesmo sem terem realizado o procedimento cirúrgico. "Estou conseguindo, aos poucos, assumir minha sexualidade feminina".
A cada 16 dias, o procedimento cirúrgico tão aguardado por Liah é realizado em um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS).
A chamada cirurgia de mudança de sexo foi um dos últimos atos cirúrgicos reconhecidos pelo governo brasileiro e entrou para a lista de procedimentos gratuitos só em 2008. De lá para cá, 57 cirurgias foram realizadas no País, sendo dez no primeiro ano, 31 em 2009 e 16 até junho de 2010. A estatística é crescente, mas ainda irrisória perto da fila de espera formada por pessoas que sentem ter nascido no corpo errado.
Psiquiatra descarta doença psíquica
Eles não são travestis, homossexuais, drag queens ou transformistas. O nome é transexual, condição reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um transtorno de gênero. Não há nenhuma doença psíquica associada. Os que fazem parte deste grupo nascem com um órgão sexual que não condiz com a sua personalidade, explica o psiquiatra da PUC de São Paulo Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade, de Gênero e Orientação Sexual.
Nas duas últimas décadas, a medicina passou a prestar mais atenção aos pacientes com transtornos de gênero e a cirurgia de troca de sexo deixou de ser feita só na clandestinidade. Os estudos também evoluíram. "Hoje, já existem evidências de que não só a genética, mas componentes químicos interferem no desenvolvimento do cérebro e culminam nesta condição. É claro que não existe causa única, mas não é só o meio que interfere", afirma Saadeh.
A cirurgia de adequação do sexo masculino para o feminino consiste, em linhas gerais, na retirada do pênis, na construção de uma cavidade parecida com a da vagina com capacidade de substituir o trato urinário, em uma operação que supera 12 horas de duração. Já a "criação do pênis" é mais complicada, ainda tida como experimental e com riscos mais altos de complicação. Os movimentos de defesa dos transexuais do Brasil estimam que menos de cinco cirurgias do tipo foram feitas no País. Para cada caso, são em média 15 microcirurgias para o procedimento ser completo.
Hoje, de forma legalizada, apenas quatro centros universitários estão autorizados a fazer estas cirurgias, sendo um em São Paulo, um em Porto Alegre, um em Goiás e o outro no Rio de Janeiro. Uma norma recente do CFM deu margem para que, a partir de agora, as clínicas particulares também realizem o procedimento.
Prof. Enf. Osmar de Souza Reis Junior
Enfermeiro e Coordenador da USF do Cuiarana/Salinópolis
Coordenador Municipal do Programa de Imunização
Conselheiro Municipal do Direito da Criança e do Adolescente de Salinópolis
Especializando em Enfermagem em Urgência e Emegência - UFPa
Especializando em Gestão em Saúde Pública - UFPa
Movimento Universitário em Defesa da Diversidade Sexual - Grupo Orquídeas UFPa

Um comentário:

Andressa Malcher disse...

você tem que colocar o crédito da matéria. sou repórter do Jornal Amazônia, veículo que publicou a notícia. Fui eu quem entrevistou a Lyah. Por favor, coloque a fonte de onde você tirou este texto.

Obrigada.

Andressa Gonçalves