terça-feira, junho 22, 2010

A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRA!

tod@s amig@s e militantes

Obrigado por toda a solidariedade diante da agressão esta carta é um esforço de não sucumbir perante a violência. Faço aqui um breve relato sobre a ocorrência e como anda o processo.

Estávamos (eu, Luciano da Rural, Grega -Ângela da UFRJ e o Douglas) já de saída do bar das Quengas nos despedindo, quando um rapaz que estava na mesa ao lado começou a nos chamar de “cambada de viadinhos” e que éramos todos viadinhos, ignoramos e continuamos a falar entre a gente, quando estávamos de partida o mesmo me agrediu pela costa, com um soco no ouvido, a partir daí começou a discussão e chamamos o 190, estava passando uma viatura na hora paramos e comunicamos a agressão e pedimos que fosse feita o procedimento, nesta hora o agressor assumiu gritando peranteos policiais que tinha batido e que éramos um bando de viadinhos, bateria de novo, diante deste fato o policial liberou o agressor, indo embora com a justificativa de que não era a sua região de atuação e estava só de passagem. Anotamos a placa da viatura e a identificação do policial, após este fato fomos todos a delegacia fazer a ocorrência, o encaminhamento para exame de corpo delito só foi feito a noite de posse do Boletim de Atendimento Médico (no qual foi diagnosticado, perfuração dos tímpanos). Feito o exame de corpo delito fui até a SUPPERDIR no qual fui atendido prontamente pelo Advogado da Superintendência no qual deixei a cópia da R.O e o número do Boletim de Atendimento Médico. Aguardando através da Superintendência ser encaminhado a Defensoria Pública. Não temos nome do agressor, embora na ocorrência tenha o endereço do seu apartamento, acredito que a investigação sirva para isto!!! Agressão foi na calçada, o bar até na quinta feira não sabia da ocorrência!

Algumas reflexões a respeito do ocorrido, a dor maior não é a física e sim a emocional, vejo materializado a homofobia que tantos discutimos e combatemos, quando procuramos aparato do Estado deparamos com a desqualificação da nossa dor, que chamo aqui de Homofobia Institucional, pois meu corpo tudo pode sofrer, sou invisível a ponto de uma autoridade policial liberar o agressor que confessa o crime na sua frente. Dois anos após a 1ª Conferência Nacional LGBT me pergunto há bastante tempo, quais são as mudanças da nossa realidade???? Realidade aqui que falo é da ponta, das ruas, dos atendimentos dos gestores públicos perante o segmento LGBT incluindo todas as interseccionalidades, racial, de gêneros, geracional, classe, não a realidade dos que estão nos gabinetes ou institucionalizados nos movimentos, cujo sobrenome é institucional. As políticas públicas e os programas de combate a homofobia ainda não traduziu em uma sociedade de fato mais inclusiva e respeitosa pela diversidade sexual, temos muito ainda que lutar para de fato podermos dizer que o Rio de Janeiro seja a Capital Mundial Gay, aqui todos os instantes direitos de ser e existir são violentados, se o agressor agiu motivado pela homofobia, a autoridade policial não foi muito diferente ignorando o ocorrido mesmo diante da confissão do agressor, não é de hoje que a população negra quando solicita o serviço do estado se depara com o descaso, neste caso constituindo a conivência com a situação de violência “A CARNE MAIS BARATA DO MERCADO É A CARNE NEGRA!”. Era visível a surpresa de alguns diante do corpo negro ser apresentado como vítima e não o acusado. Este mesmo corpo só poder ir a exame delito se tiver dilacerado e exposto.

A idealização política de nossas lutas tem que se materializar cotidianamente em nossas vidas, sair da virtualidade, do papel, para chegar nas esquinas, nas casas, nas escolas, hospitais em fim em todos os lugares que o dinheiro dos impostos pagos por nós chegam, pela aplicação e execução da LEI 3.406 de 2000, Dep. Carlos Minc (ESTABELECE PENALIDADES AOS ESTABELECIMENTOS QUE DISCRIMINEM PESSOAS EM VIRTUDE DE SUA ORIENTAÇÃO SEXUAL, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS), até hoje o Estado do Rio de Janeiro não regulamentou esta lei. Ao ser atendido pela SUPPERDIR vi que ainda estamos tímido em nossa empreitada, espero o mais urgente possível a implementação dos Centros de Referências LGBT espalhados pelo Estado, para que possam como a Superintendência ser um posto de acolhida de vítimas de homofobia para encaminhamento das medidas legais, administrativas e necessárias.

Agradeço aqui a tod@s que não se calam diante desta sociedade homofóbica, machista, racista, que discrimina, vulnerabiliza, é desigual, violenta e mata mulheres e homens devido ao seu pertencimento racial, orientação sexual, gênero, geração e outras identidades. A vocês chamo de companheir@s e parabenizo por existirem e resistirem a esta engendra que tenta nos formatar e aniquilar, este espaço societário(Movimento Social) é a minha escola e através dela ao longo do tempo pude ler, entender e apreender a minha vida, me energizar, trocar afetos e continuar na luta por uma sociedade melhor!

Estou resistindo com toda força, Axé!

Rodrigo Reduzino!

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