sexta-feira, maio 14, 2010

“Ser jovem e gay – a vida sem dramas”. Veja mas não acredite.










A edição 280 da revista semanal Veja trouxe em matéria de capa desta semana o tema "Ser jovem e gay. A vida sem dramas", com uma longa matéria com um perfil deturpado do jovem homossexual brasileiro. Segundo a revista, é natural sair do armário no Brasil e os jovens o estão fazendo. De forma ingênua, a revista apresenta casos de adolescentes de classe média e média alta, com direito a fotos com mães e pais orgulhosos, mas esconde o risco de violência que estes jovens estão correndo.

A matéria não cita a homofobia, nem mesmo os casos de violência que alguns dos entrevistados possam ter sofrido. Caso do militante Igor Konrath, de 20 anos, estudante de comunicação social de Curitiba. A matéria não o cita como militante gay jovem, ou mesmo que no ano passado ele foi vítima de homofobia na capital paranaense, quando um de seus amigos foi agredido por um garçom de uma lanchonete em que estavam. Caso denunciado em nosso site. A matéria ainda generaliza que estes jovens gays acham a militância e a luta pelo direito gay algo “fora de moda”, e ainda diz que eles defendem a cultura do “sem rótulos”.

Em um país onde aproximadamente 200 homossexuais são mortos por ano em razão da sua homossexualidade, é difícil de acreditar que a Veja fez uma matéria dizendo que os jovens saem do armário sem medo, baseando se em estudos feitos no primeiro mundo. Infelizmente, estes jovens que contam com o apoio da família e amigos são a minoria. Assim como os adultos, a maior parte dos homossexuais jovens ainda vive no armário, em grande negação da sua própria homossexualidade. A matéria revela um mundo colorido demais para ser verdade, mas que deve ser vista de forma positiva, apesar de todas estas críticas, ainda temos algumas outras.

A homofobia, porém, está presente no próprio texto, no discurso de jovens que acham não precisam andar de mãos dadas ou beijar o companheiro em público, pois “Não preciso ficar expondo minha sexualidade”. Esta alienação é visível quando evitam comentar com os pais de namorados e namoradas, em clara referência a uma negociação de tolerância e aceitação. Os gays, sobretudo os jovens, não podem aceitar a negociação de direitos. A verdadeira aceitação é aquela quando os direitos iguais são respeitados, ou seja, quando os pais permitem ao filho a mesma liberdade e respeito que tem com os filhos heterossexuais. E isso inclui casamento, participação na vida do casal e reconhecimento, que se analisados os personagens apresentados, restam poucos. A realidade é diferente, os mesmos jovens que vivem em uma bolha, não contarão com os pais ou amigos do colégio quando precisarem buscar empregos no mercado de trabalho ou enfrentarem o preconceito cru e real de um juiz de Direito. São jovens que se comunicam com o mundo pela internet e que acham que um comentário ofensivo ou outro no Twitter não são graves.

Dizer que a militância é fora de moda e que os jovens que participam da parada querem ir lá para festar é irresponsável. Se a sociedade de fato vem mudado é uma conquista tão somente daqueles que por meio do movimento gay lutaram por este novo paradigma na sociedade. Negar este fato, assim como negar as boates gays ou a importância das paradas, é desconhecer a própria história. Não é preciso concordar com nenhum destes grupos ou eventos mas não podemos negar a importância da militância gay no passado ou hoje.

A matéria, porém, dizemos novamente, deve ser encarada como uma vitória. Tendo uma mídia que raramente coloca os homossexuais de maneira positiva em pauta, a matéria foi gloriosa, capa da principal revista nacional. Pecou, como sempre, na generalização. Mas não custa sonhar com esta realidade, talvez no dia que tenhamos uma lei que puna a discriminação, em que poderemos casar, adotar e ter os mais de 30 direitos que nos são negados finalmente reconhecidos.

Leia a matéria completa de VEJA aqui:
http://veja.abril.com.br/120510/geracao-tolerancia-p-106.shtml

Att.
Allan Johan - DRT-PR 8019
Jornalista Profissional Diplomado
Lado A Comunicação
www.revistaladoa.com.br
www.revistatutto.com.br

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