Presidente do grupo LGBT da Noruega reconhece a importância da Parada Gay
SÃO PAULO - Quando São Paulo se prepara para o que se tornou a maior
Parada Gay do mundo — na qual mais de 3,5 milhões de pessoas são
esperadas neste domingo na Avenida Paulista — uma conversa com o
norueguês Bård Nylund, de 31 anos, mostra o quanto o Brasil ainda tem a
avançar em questões-chave para os homossexuais, que corresponderiam a
até 18 milhões de pessoas no país. Nylund é presidente da Organização
LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros)
da Noruega, país considerado pioneiro do ativismo gay e detentor de uma
das legislações mais avançadas do mundo. Os gays noruegueses podem se
casar, muitas vezes até em cerimônias religiosas, facilmente adotar
crianças e tirar licença paternidade ou maternidade. Lésbicas têm
direito à inseminação artificial gratuita, e o preconceito, ali, é crime
desde 1972. Nylund comemora eventos como a Parada Gay (“são parte da
luta por visibilidade”), mas acha que a opinião pública não deve apenas
celebrar, e sim pressionar o debate político. Em entrevista por
telefone, de Oslo, ele conta como a Noruega chegou lá e diz acreditar
que uma mistura de “fraqueza institucional, atraso na educação e
influência da igreja” ainda impedem que o mesmo ocorra no Brasil.
O GLOBO: O Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado, reconheceu a união estável entre homossexuais. A Constituição estabelece que a união pode ser convertida em casamento civil, mas muitos tribunais locais se dividem e casais enfrentam uma série de dificuldades. É mais difícil gays adotarem, a mudança de sexo é tabu, a violência contra gays e transexuais é outro problema. Como o senhor interpreta isso?
BÅRD NYLUND: Acho que sinaliza uma certa fraqueza institucional. É estranho, não entendo como o corpo jurídico superior de um país possa tomar uma decisão e ela ser barrada em jurisprudências locais. As instituições devem ser o fundamento de qualquer democracia. Na Noruega, respeita-se muito as instituições, que não sofrem qualquer influência política, conservadora ou religiosa. Outro fator é a educação, quanto menor a escolaridade, mais as pessoas são influenciadas pela religião.
O GLOBO: O senhor acha que o fato de a Noruega oferecer educação gratuita e igualitária à sua população ajudou a luta pelo direitos dos gays?
NYLUND: Sem dúvida, pessoas mais bem educadas tendem a lutar mais pelos seus direitos e, ao mesmo tempo, a não ter preconceito em relação às demais. O ativismo gay norueguês começou no pós-guerra. Nos primeiros dez anos, foi um fenômeno puramente social; nos anos 60, virou político. Há 40 anos, nosso Parlamento tornou crime qualquer tipo de agressão e preconceito contra gays. A partir daí, fomos avançando e hoje nos sentimos extremamente sortudos, é como se chegássemos sempre em primeiro lugar numa corrida. Ainda temos problemas, claro, de preconceito, especialmente relacionados a grupos de extrema-direita. Mas esses grupos odeiam todo o mundo, e não apenas os gays.
O GLOBO: Como é ser gay na Noruega?
NYLUND: Somos entre 3% e 5% da população. O casamento é permitido, casais gays adotam tranquilamente, os dois se registram como pais da criança. Lésbicas que desejarem um bebê têm acesso a inseminação artificial gratuitamente, assim como quem deseja mudar de sexo. Os pais dividem entre si, da maneira que acharem melhor, as 51 semanas dadas pelo governo de licença maternidade/paternidade. Muitas igrejas topam casar gays. Ou seja, temos basicamente os mesmos direitos de quem não é gay.
O GLOBO: O que o senhor acha de eventos como a Parada Gay de São Paulo, que atrai uma multidão e conta com a participação de políticos como o prefeito, Gilberto Kassab, o candidato a prefeito José Serra e a senadora Marta Suplicy?
NYLUND: É importante porque eventos assim são muito divertidos, e também são parte da luta por visibilidade. É importante (para a minoria) se sentir, uma vez por ano que seja, parte da maioria. É bom ser enxergado pela maioria, porque somos uma minoria inocente e que está em toda a parte! É importante políticos participarem, mesmo que o objetivo final seja ganhar votos. Eles precisam ser pressionados para que a realidade seja transformada.
O GLOBO: O Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado, reconheceu a união estável entre homossexuais. A Constituição estabelece que a união pode ser convertida em casamento civil, mas muitos tribunais locais se dividem e casais enfrentam uma série de dificuldades. É mais difícil gays adotarem, a mudança de sexo é tabu, a violência contra gays e transexuais é outro problema. Como o senhor interpreta isso?
BÅRD NYLUND: Acho que sinaliza uma certa fraqueza institucional. É estranho, não entendo como o corpo jurídico superior de um país possa tomar uma decisão e ela ser barrada em jurisprudências locais. As instituições devem ser o fundamento de qualquer democracia. Na Noruega, respeita-se muito as instituições, que não sofrem qualquer influência política, conservadora ou religiosa. Outro fator é a educação, quanto menor a escolaridade, mais as pessoas são influenciadas pela religião.
O GLOBO: O senhor acha que o fato de a Noruega oferecer educação gratuita e igualitária à sua população ajudou a luta pelo direitos dos gays?
NYLUND: Sem dúvida, pessoas mais bem educadas tendem a lutar mais pelos seus direitos e, ao mesmo tempo, a não ter preconceito em relação às demais. O ativismo gay norueguês começou no pós-guerra. Nos primeiros dez anos, foi um fenômeno puramente social; nos anos 60, virou político. Há 40 anos, nosso Parlamento tornou crime qualquer tipo de agressão e preconceito contra gays. A partir daí, fomos avançando e hoje nos sentimos extremamente sortudos, é como se chegássemos sempre em primeiro lugar numa corrida. Ainda temos problemas, claro, de preconceito, especialmente relacionados a grupos de extrema-direita. Mas esses grupos odeiam todo o mundo, e não apenas os gays.
O GLOBO: Como é ser gay na Noruega?
NYLUND: Somos entre 3% e 5% da população. O casamento é permitido, casais gays adotam tranquilamente, os dois se registram como pais da criança. Lésbicas que desejarem um bebê têm acesso a inseminação artificial gratuitamente, assim como quem deseja mudar de sexo. Os pais dividem entre si, da maneira que acharem melhor, as 51 semanas dadas pelo governo de licença maternidade/paternidade. Muitas igrejas topam casar gays. Ou seja, temos basicamente os mesmos direitos de quem não é gay.
O GLOBO: O que o senhor acha de eventos como a Parada Gay de São Paulo, que atrai uma multidão e conta com a participação de políticos como o prefeito, Gilberto Kassab, o candidato a prefeito José Serra e a senadora Marta Suplicy?
NYLUND: É importante porque eventos assim são muito divertidos, e também são parte da luta por visibilidade. É importante (para a minoria) se sentir, uma vez por ano que seja, parte da maioria. É bom ser enxergado pela maioria, porque somos uma minoria inocente e que está em toda a parte! É importante políticos participarem, mesmo que o objetivo final seja ganhar votos. Eles precisam ser pressionados para que a realidade seja transformada.
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