sexta-feira, abril 06, 2012

Gays saem do armário e Brasil pode ter primeiro prefeito homossexual assumido

Rachel Duarte
Um dos fundadores do PSOL na Paraíba, Renan Palmeira pode ser o primeiro prefeito gay do Brasil./Foto: Arquivo Pessoal
Ele é professor de história e tem uma trajetória de militância em defesa dos direitos dos trabalhadores e contra as injustiças sociais. Jovem, com espírito inovador e disposto a tornar a sociedade mais cidadã, se for eleito prefeito em João Pessoa (PB), pretende descentralizar o poder público e aproximar o cidadão da prefeitura, bem como realizar projetos e ações para garantia dos direitos humanos. Tal apresentação atrairia certamente boa parte dos eleitores pessoenses, mas se este currículo pertencer a um pré-candidato gay à prefeitura, alguma coisa mudaria? Esta resposta virá da sociedade brasileira nestas eleições municipais. Renan Palmeira, 25 anos, é o primeiro pré-candidato a assumir a homossexualidade na disputa em uma chapa majoritária no país.
No último domingo (25), o PSOL da Paraíba decidiu em convenção pela pré-candidatura de Renan Palmeira para disputar as eleições à prefeitura de João Pessoa. Militante dos movimentos sociais e um dos fundadores do PSol paraibano, Palmeira teve o apoio da maioria dos filiados. O nome já havia sido sugerido para a disputa na proporcional, como uma boa opção para vereador, mas diante de uma crise de nomes para a disputa ao Paço Municipal, Renan Palmeira cresceu como candidato do PSol na majoritária. No debate interno, surgiram dúvidas sobre o quanto a sociedade está preparada para dialogar com este pré-candidato e se a escolha não estigmatizaria o PSOL na disputa. “Eu tenho atuação política em várias frentes: em defesa do SUS, contra terceirização, na defesa do transporte público de qualidade. Eu consegui convencer o partido que meu nome era o melhor por causa da minha trajetória. Eu tenho orgulho da militância pela causa LGBT, mas tenho outras lutas que me gabaritaram”, avalia.
Entre as referências políticas do pré-candidato a prefeito na Paraíba está a ex-deputada Luciana Genro e a ex-senadora Heloisa Helena./Foto: Arquivo Pessoal
Renan Palmeira ainda está organizando a coordenação da futura campanha, mas antes da convenção de lançamento da candidatura, ele afirma que está tendo receptividade. “Vou enfrentar a campanha com a mesma alma vitoriosa que eu enfrentei a sociedade machista, homofóbica e conservadora ao assumir minha sexualidade e militar no movimento LGBT. Quem tem que ter vergonha da minha participação são os políticos que não falam a verdade. Eu sou o primeiro candidato gay que assume a sua sexualidade em uma disputa eleitoral, mas há vários outros homossexuais ou defensores da causa LGBT que já disputaram e são enrustidos. Então, quem tem que se sentir incomodados serão os meus adversários, não eu”, defende.
Para a disputa, o PSOL não pensa em explorar a causa LGBT ou mesmo a homossexualidade do pré-candidato. Assim como em qualquer disputa eleitoral, o partido aposta em apoios políticos e na coligação com os demais partidos da esquerda da Paraíba. “Estamos discutindo com o PSTU e o PCB, mas estes partidos não se dão conta do tamanho que esta pré-candidatura está se tomando. A disputa será difícil porque o PSOL é um partido novo no Brasil, mas defendemos debates nacionais importantes como a compreensão de um estado laico, a luta pelo PL 122 (para criminalizar a homofobia) e a luta contra a corrupção e injustiças”, argumenta.
Renan Palmeira milita na causa LGBT mas constitui carreira política em outras frentes./Foto: Arquivo Pessoal.
O pré-candidato ao executivo municipal de João Pessoa já está fazendo história. Caso se torne também o primeiro prefeito gay do Brasil, Renan Palmeiro promete governar “independente da orientação sexual de cada cidadão”. “Meu compromisso é por zelar pelo patrimônio público, pela honestidade da gestão, levando em conta a defesa dos direitos humanos. Vamos implementar projetos audaciosos para consolidar os direitos humanos em João Pessoa e apoiar populações vulneráveis”, diz.
Crescem pré-candidaturas coloridas nas eleições 2012
Se na majoritária o país vive um momento inédito com a pré-candidatura pessoense, na proporcional as tentativas de homossexuais ocuparem espaços de poder vêm se tornando realidade nos últimos anos. De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), até agora foram identificadas 132 pessoas do movimento LGBT como pré-candidatas às eleições municipais de 2012. Pelo levantamento da entidade, em 22 estados há ao menos um representante da causa disputando o parlamento das cidades. Todos os partidos apresentaram nomes, inclusive no Partido Social Cristão, diz a ABGLT.
Dino Alves propõe criar PL para Orçamento LGBT em Maceio./Foto: Arquivo Pessoal
Em Maceió (AL), o diretor geral da Ong Pró-Vida, Dino Alves, que desenvolve trabalho em defesa dos direitos da população LGBT, foi referendado pelo PSB como pré-candidato a vereador. “Já articulei campanhas eleitorais na setorial LGBT e na coordenação geral de campanhas em Alagoas. Pela primeira vez, optei em colocar meu nome à disposição. Venho do movimento estudantil e coordeno a parada gay de Maceió, evento que tornamos mais politizado e menos ‘carnaval gay fora de época’ e modificamos a forma de repasse de recursos para a realização deste evento para evitar desvios”, conta.
Dino Alves conta que mesmo fora do poder já contribui efetivamente na cidade para romper o fundamentalismo e os fortes valores conservadores da terra dos marechais. “Começamos a enfrentar as estatísticas de assassinatos de gays por motivação homofóbica e trabalhar no respeito à vida e ao trabalho das travestis. Desenvolvimentos uma cartilha sobre homossexualidade e homofobia que virou um documento institucional distribuído pelo Conselho Estadual de Educação”, explica.
Com a possível eleição ao parlamento da cidade, Dino Alves pretende ser ativo na Câmara Municipal de Maceio. “Podemos contribuir com realização de projetos de lei para criar um Orçamento LGBT no executivo municipal. Temos que conseguir executar as ações pela cidadania e ter recursos garantidos para a causa. Como gay, eu tenho condições de lutar por isso com a propriedade de causa que negros e mulheres lutam pelos seus direitos”, compara.
“A eleição de um gay é muito difícil, não temos nem o voto dos gays”, diz ex-candidato
Célio Golin | Flickr
Na avaliação do coordenador do Grupo Nuances de Porto Alegre, Célio Golin, que disputou a vaga na Câmara de Vereadores de Porto Alegre na última eleição, os partidos políticos são os mais interessados em ter candidaturas de representantes da comunidade gay. “Esta onda LGBT que o país vive está sendo aproveitada e os partidos começaram a lançar candidatos para ocupar este espaço”, diz.
Golin conquistou 1,805 mil votos e fez a campanha com a ajuda de amigos. Devido aos custos elevados de conseguir desenvolver uma campanha no país, ele avalia a sua atuação como modesta e não pensa mais em ser candidato. “Militantes se candidatam, como eu fiz aqui, mas não conseguem se eleger. Até candidatas travestis tiveram mais votos que eu. Não é uma questão de homossexualidade, porque mesmo os gays não votam necessariamente em gays. Eles votam em partidos e projetos”, considera.
Pré-candidato a vereador em Maceio, Dino Alves (PSB) do lado esquerdo do deputado federal Jean Wyllys (PSol)./Foto: Arquivo Pessoal
A eleição do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), exemplifica o ativista, também não se consolidou no voto dos gays. “Ele tinha a fama do BBB e o seu partido teve um bom coeficiente eleitoral que o colocou no Congresso. O que foi ótimo, porque ele conseguiu pautar a agenda política do país com o PL 122 e outros direitos dos homossexuais”, analisa Célio Golin.
Por outro lado, apesar das dificuldades eleitorais, Golin acredita que o país lançar cada vez mais candidaturas gays é importante para a igualdade e o estado laico. “A política é um espaço de disputa por visibilidade e depende de articulações. Ter um representante homossexual nos espaços de poder traz os temas e a causa para o debate da sociedade. Além de ser um braço forte na cobrança das ações por parte do estado”, falou. Mas, alerta o próprio movimento LGBT. “Fazer qualquer disputa tem que ser no argumento e com boa plataforma. O debate tem que ser qualificado e não estigmatizado”.

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Rachel Duarte
repórter

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