Rachel
Duarte
Ele é professor de história e tem uma
trajetória de militância em defesa dos direitos dos trabalhadores e contra as
injustiças sociais. Jovem, com espírito inovador e disposto a tornar a sociedade
mais cidadã, se for eleito prefeito em João Pessoa (PB), pretende descentralizar
o poder público e aproximar o cidadão da prefeitura, bem como realizar projetos
e ações para garantia dos direitos humanos. Tal apresentação atrairia certamente
boa parte dos eleitores pessoenses, mas se este currículo pertencer a um
pré-candidato gay à prefeitura, alguma coisa mudaria? Esta resposta virá da
sociedade brasileira nestas eleições municipais. Renan Palmeira, 25 anos, é o
primeiro pré-candidato a assumir a homossexualidade na disputa em uma chapa
majoritária no país.
No último domingo (25), o PSOL da
Paraíba decidiu em convenção pela pré-candidatura de Renan Palmeira para
disputar as eleições à prefeitura de João Pessoa. Militante dos movimentos
sociais e um dos fundadores do PSol paraibano, Palmeira teve o apoio da maioria
dos filiados. O nome já havia sido sugerido para a disputa na proporcional, como
uma boa opção para vereador, mas diante de uma crise de nomes para a disputa ao
Paço Municipal, Renan Palmeira cresceu como candidato do PSol na majoritária. No
debate interno, surgiram dúvidas sobre o quanto a sociedade está preparada para
dialogar com este pré-candidato e se a escolha não estigmatizaria o PSOL na
disputa. “Eu tenho atuação política em várias frentes: em defesa do SUS, contra
terceirização, na defesa do transporte público de qualidade. Eu consegui
convencer o partido que meu nome era o melhor por causa da minha trajetória. Eu
tenho orgulho da militância pela causa LGBT, mas tenho outras lutas que me
gabaritaram”, avalia.
Renan Palmeira ainda está organizando a
coordenação da futura campanha, mas antes da convenção de lançamento da
candidatura, ele afirma que está tendo receptividade. “Vou enfrentar a campanha
com a mesma alma vitoriosa que eu enfrentei a sociedade machista, homofóbica e
conservadora ao assumir minha sexualidade e militar no movimento LGBT. Quem tem
que ter vergonha da minha participação são os políticos que não falam a verdade.
Eu sou o primeiro candidato gay que assume a sua sexualidade em uma disputa
eleitoral, mas há vários outros homossexuais ou defensores da causa LGBT que já
disputaram e são enrustidos. Então, quem tem que se sentir incomodados serão os
meus adversários, não eu”, defende.
Para a disputa, o PSOL não pensa em
explorar a causa LGBT ou mesmo a homossexualidade do pré-candidato. Assim como
em qualquer disputa eleitoral, o partido aposta em apoios políticos e na
coligação com os demais partidos da esquerda da Paraíba. “Estamos discutindo com
o PSTU e o PCB, mas estes partidos não se dão conta do tamanho que esta
pré-candidatura está se tomando. A disputa será difícil porque o PSOL é um
partido novo no Brasil, mas defendemos debates nacionais importantes como a
compreensão de um estado laico, a luta pelo PL 122 (para criminalizar a
homofobia) e a luta contra a corrupção e injustiças”, argumenta.
O pré-candidato ao executivo municipal
de João Pessoa já está fazendo história. Caso se torne também o primeiro
prefeito gay do Brasil, Renan Palmeiro promete governar “independente da
orientação sexual de cada cidadão”. “Meu compromisso é por zelar pelo patrimônio
público, pela honestidade da gestão, levando em conta a defesa dos direitos
humanos. Vamos implementar projetos audaciosos para consolidar os direitos
humanos em João Pessoa e apoiar populações vulneráveis”, diz.
Crescem pré-candidaturas coloridas nas eleições 2012
Se na majoritária o país vive um
momento inédito com a pré-candidatura pessoense, na proporcional as tentativas
de homossexuais ocuparem espaços de poder vêm se tornando realidade nos últimos
anos. De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Gays,
Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), até agora foram
identificadas 132 pessoas do movimento LGBT como pré-candidatas às eleições
municipais de 2012. Pelo levantamento da entidade, em 22 estados há ao menos um
representante da causa disputando o parlamento das cidades. Todos os partidos
apresentaram nomes, inclusive no Partido Social Cristão, diz a ABGLT.
Em Maceió (AL), o diretor geral da Ong
Pró-Vida, Dino Alves, que desenvolve trabalho em defesa dos direitos da
população LGBT, foi referendado pelo PSB como pré-candidato a vereador. “Já
articulei campanhas eleitorais na setorial LGBT e na coordenação geral de
campanhas em Alagoas. Pela primeira vez, optei em colocar meu nome à disposição.
Venho do movimento estudantil e coordeno a parada gay de Maceió, evento que
tornamos mais politizado e menos ‘carnaval gay fora de época’ e modificamos a
forma de repasse de recursos para a realização deste evento para evitar
desvios”, conta.
Dino Alves conta que mesmo fora do
poder já contribui efetivamente na cidade para romper o fundamentalismo e os
fortes valores conservadores da terra dos marechais. “Começamos a enfrentar as
estatísticas de assassinatos de gays por motivação homofóbica e trabalhar no
respeito à vida e ao trabalho das travestis. Desenvolvimentos uma cartilha sobre
homossexualidade e homofobia que virou um documento institucional distribuído
pelo Conselho Estadual de Educação”, explica.
Com a possível eleição ao parlamento da
cidade, Dino Alves pretende ser ativo na Câmara Municipal de Maceio. “Podemos
contribuir com realização de projetos de lei para criar um Orçamento LGBT no
executivo municipal. Temos que conseguir executar as ações pela cidadania e ter
recursos garantidos para a causa. Como gay, eu tenho condições de lutar por isso
com a propriedade de causa que negros e mulheres lutam pelos seus direitos”,
compara.
“A
eleição de um gay é muito difícil, não temos nem o voto dos gays”, diz
ex-candidato
Na avaliação do coordenador do Grupo
Nuances de Porto Alegre, Célio Golin, que disputou a vaga na Câmara de
Vereadores de Porto Alegre na última eleição, os partidos políticos são os mais
interessados em ter candidaturas de representantes da comunidade gay. “Esta onda
LGBT que o país vive está sendo aproveitada e os partidos começaram a lançar
candidatos para ocupar este espaço”, diz.
Golin conquistou 1,805 mil votos e fez
a campanha com a ajuda de amigos. Devido aos custos elevados de conseguir
desenvolver uma campanha no país, ele avalia a sua atuação como modesta e não
pensa mais em ser candidato. “Militantes se candidatam, como eu fiz aqui, mas
não conseguem se eleger. Até candidatas travestis tiveram mais votos que eu. Não
é uma questão de homossexualidade, porque mesmo os gays não votam
necessariamente em gays. Eles votam em partidos e projetos”,
considera.
A eleição do deputado federal Jean
Wyllys (PSOL-RJ), exemplifica o ativista, também não se consolidou no voto dos
gays. “Ele tinha a fama do BBB e o seu partido teve um bom coeficiente eleitoral
que o colocou no Congresso. O que foi ótimo, porque ele conseguiu pautar a
agenda política do país com o PL 122 e outros direitos dos homossexuais”,
analisa Célio Golin.
Por outro lado, apesar das dificuldades
eleitorais, Golin acredita que o país lançar cada vez mais candidaturas gays é
importante para a igualdade e o estado laico. “A política é um espaço de disputa
por visibilidade e depende de articulações. Ter um representante homossexual nos
espaços de poder traz os temas e a causa para o debate da sociedade. Além de ser
um braço forte na cobrança das ações por parte do estado”, falou. Mas, alerta o
próprio movimento LGBT. “Fazer qualquer disputa tem que ser no argumento e com
boa plataforma. O debate tem que ser qualificado e não
estigmatizado”.
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Rachel Duarte
repórter
Rachel Duarte
repórter
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