Comitê avaliou 83 pesquisas produzidas desde os anos 60.
Entidade sugere ponderação para orientar homossexuais religiosos.
A Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla
em inglês) declarou nesta quarta-feira (5) que profissionais de
saúde mental não devem dizer a seus pacientes gays que eles
podem se tornar heterossexuais por meio de terapia ou outra
forma de tratamento. A orientação da entidade, específica para
aqueles que atendem pessoas com conflitos entre sua orientação
sexual e suas crenças religiosas, é que consideram opções
múltiplas, que vão da adoção do celibato até a pura e simples
troca da igreja que frequentam.
A resolução com esses princípios foi aprovada por 125 votos
contra 4 durante convenção da APA, realizada este ano em
Toronto, no Canadá, até domingo (9). Em um relatório baseado em
dois anos de pesquisas, os 150 profissionais afiliados
manifestaram firme oposição à chamada “terapia reparadora”, que
busca a mudança de orientação sexual. O texto afirma que não há
evidência sólida de que essa mudança seja possível. Alguns
estudos, o relatório ressalta, sugerem até mesmo que esse tipo
de esforço pode induzir à depressão e a tendências suicidas.
“Quem atende deve ajudar seus pacientes por meio de terapias
(…) que envolvam aceitação, apoio e exploração de
identidade, sem imposição de uma identidade específica”, diz o documento.
A APA já havia criticado as terapia de mudança de orientação
sexual no passado, mas uma força-tarefa de seis membros da
entidade, liderada por Judith Glassgold, de New Jersey, conferiu
mais peso a essa posição, analisando 83 estudos sobre orientação
sexual conduzidos desde 1960. As conclusões desse comitê revisor
foram endossadas oficialmente pela direção da entidade.
O relatório trata com detalhes a questão de como terapeutas devem
lidar com pacientes gays que lutam para permanecer fiéis a
crenças religiosas que desaprovem a homossexualidade.
Segundo Judith, a esperança é de que o documento ajude a desarmar
o debate polarizado entre religiosos conservadores que creem na
possibilidade de mudar a orientação sexual e os muitos
profissionais da área de saúde mental que rejeitam essa opção.
“Os dois lados precisam se educar melhor”, disse a especialista.
“Os psicoterapeutas religiosos precisam abrir seus olhos para os
potenciais aspectos positivos de ser gay ou lésbica. Terapeutas
não religiosos precisam reconhecer que algumas pessoas podem dar
preferência a sua religião, em detrimento de sua sexualidade.”
Brasil
No final do mês passado, o Conselho Federal de Psicologia decidiu aplicar uma censura pública como punição à psicóloga Rozângela Alves Justino, que oferecia terapia para que gays e lésbicas deixassem de ser homossexuais. O órgão concluiu que a profissional infringiu o Código de Ética da Psicologia e uma resolução do conselho, de 1999, segundo a qual a “homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.
No final do mês passado, o Conselho Federal de Psicologia decidiu aplicar uma censura pública como punição à psicóloga Rozângela Alves Justino, que oferecia terapia para que gays e lésbicas deixassem de ser homossexuais. O órgão concluiu que a profissional infringiu o Código de Ética da Psicologia e uma resolução do conselho, de 1999, segundo a qual a “homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.
Rozângela confirmou ao G1 que considera o
homossexualidade um distúrbio, provocado principalmente por
abusos e traumas sofridos durante a infância. Ela atua como
psicóloga há 28 anos e diz ter "aliviado o sofrimento"
de vários homossexuais. “Estou me sentindo amordaçada e impedida
de ajudar as pessoas que, voluntariamente, desejam largar a
atração por pessoas do mesmo sexo", disse.
Para Léo Mendes, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), “uma psicóloga não
pode aplicar princípios religiosos nos tratamentos que oferece
como profissional".
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