Recentemente recebi
uma imagem que circulava na rede separando os gays em "bichinhas e
homossexuais" (é esta imagem que abre o post), abaixo da imagem li inúmeros
comentários e revi algumas coisas que sempre me chamaram a atenção: a primeira,
a necessidade de se enquadrar e limitar as coisas ou os comportamentos; e a
segunda, reflexo da primeira, é a forma como as pessoas falam de si mesmas
quando se referem à sua orientação sexual.
Quem nunca ouviu uma pessoa dizendo que é gay, mas é supernormal, não é efeminado, não tem trejeitos de gays, é super discreto, é tão normal nem sequer parece ser gay? Indo mais além, quem nunca ouviu algumas pessoas dizendo que não são e não gostam de efeminados, dos viadinhos, das pintosas, de gente que fala fino demais ou que tem trejeitos, de pessoas espalhafatosas que chamam a atenção pra si?
Já fiz muito isso, até já contei por aqui que apontava meu dedinho para tudo quanto é lado e distribuía muitos julgamentos.
Não
sei o que passava na minha cabeça, aliás, sei sim! Eu acreditava que ser LGBT e
ser digno era duas coisas que se opunham de tal forma que era impossível viver
dignamente não sendo heterossexual. Não parecer LGBT, era mais que um mecanismo
de defesa, era uma qualidade e uma condição fundamental para que eu fosse
respeitado. Qualidade esta que devia ser preservada, reforçada e
exaltada.
Quem nunca ouviu uma pessoa dizendo que é gay, mas é supernormal, não é efeminado, não tem trejeitos de gays, é super discreto, é tão normal nem sequer parece ser gay? Indo mais além, quem nunca ouviu algumas pessoas dizendo que não são e não gostam de efeminados, dos viadinhos, das pintosas, de gente que fala fino demais ou que tem trejeitos, de pessoas espalhafatosas que chamam a atenção pra si?
Já fiz muito isso, até já contei por aqui que apontava meu dedinho para tudo quanto é lado e distribuía muitos julgamentos.
Vanessa de Ji-Paraná |
Vivia me
policiando para não ter nenhum tipo de comportamento que pudesse ser
identificado como gay, que desse a entender que eu era diferente, que
evidenciasse minha verdadeira orientação. O futebol sempre me entregou!
Como
não consegui negar o que sou durante um tempo me tornei, no dizer de uma amiga,
um gay de respeito.
No entender dela, um gay
de respeito é um gay que se nega,
que socialmente se passa por aquilo que não é, que nega sua sexualidade, seus
desejos, enfim, um gay que fica com meio corpo fora do armário, e na primeira
complicação volta correndo para dentro dele. E
hoje, observando a maneira como as pessoas se descrevem, vejo que não era só eu
que pensava desta maneira... Muita gente pensa assim!
Há
uma cultura da invisibilidade, uma apologia a negação de si próprio, uma
recomendação sutil de que devemos levar uma vida “contida”, isto é, sejamos gays
e lésbicas, mas vivamos sob uma roupagem heteronormativa, nos tornemos
palatáveis para turma da moral e dos bons costumes, sem chocar ou levantar
bandeiras.
E olhando
para essas pessoas que vivem angustiadas e presas em convenções sociais é que
cresce meu respeito e minha admiração pelas travestis e pel@s
transexuais.
Não tenho
dúvidas de que são as travestis e transexuais as mais agredidas, as mais
atacadas e as mais incompreendidas. São as que mais têm direitos negados, as que
mais são discriminadas. Inclusive dentro da população LGBT.
Camille Gerin, Vítima de Homofobia |
São
as travestis que mais encontram dificuldades de ingresso no mercado de trabalho,
de acesso aos serviços públicos. Sofrem com a falta de atendimento e tratamento
adequado, com a carência de políticas públicas que atendam suas especificidades.
São elas que são as mais apontadas na rua, na escola, alijadas do meio familiar,
invisíveis para o poder público. Sob
elas ainda pesa o estigma da marginalidade. E a elas muitas vezes, é negado um
dos direitos mais fundamentais do ser humano, o direito a um nome!
Durante
muito tempo travestilidade e transexualidade para mim eram sinônimos de sujeira,
imoralidade e prostituição. Por anos acreditei no estereótipo de travesti que me
passaram: barraqueiras, agressivas, desbocadas e ainda usavam gilete no dente.
Figuras ameaçadoras, que resolviam tudo no tapa.
Me
incomodava estar num mesmo ambiente ou lhes dirigir a palavra. Pensava que se
existia um grupo que devia ser discriminado, este era o das travestis, já que
elas faziam por merecer, a regra
da discrição servia para tod@s,
e se tem um segmento que chuta longe essa regra são as travestis. Mereciam as
pedradas e as dificuldades que a vida lhes impunha por “não
saberem se comportar decentemente”.
Sinceramente
ainda tenho certa dificuldade de compreendê-las, mas passei a olhá-las de outra
forma.
Luiza Marilac, tema do 1º. Post do Canhotas |
Todas as travestis que
conheci são pessoas imponentes, valentes, combativas, assertivas, mesmo as que
não são militantes. Tem a consciência da discriminação que sofrem, dos
preconceitos e agressões a que estão sujeitas, reagem a isso, nem sempre da
melhor maneira, mas enfrentam tudo de cabeça erguida, argumentam e dão
combate.
Com o tempo percebi
que o que me incomodava nas travestis não era a falta de discrição e sim o fato
de que as travestis me tiravam do meu lugar confortável de gay respeitável. Eram
elas a expressão mais clara de que era possível viver como se quer, não
importando o tamanho das dificuldades e perrengues, ou o que os outros iriam
pensar.
Elas atestavam a minha
covardia, a minha falta de coragem e os meus preconceitos. Uma demonstração
clara de que eu ainda tinha muitas amarras para soltar e correntes para me
livrar.
Aí num exercício de
humanidade, levei meu olhar para além do que meus olhos estavam acostumados a
enxergar, para além do que meus preconceitos me diziam, e vi nas travestis e
transexuais pessoas tão frágeis como todo e qualquer ser humano, cheias de
sonhos, planos, vontades e, acima de tudo, cheias de coragem pra enfrentar os
desafios cotidianos. Mas o melhor foi percebê-las cheias de vida, de alegria e
graça, mesmo com todas as dificuldades que a vida lhes
impõe!
Admiro as travestis e @s transexuais pois além de me tirarem da minha zona de conforto, elas transgridem e transcendem qualquer rótulo que a sociedade, os acadêmicos, o poder público, ou quem quer que seja, tentam lhes impor, Estão acima de definições, são complexas, intensas, únicas e vivas demais para se sujeitaram a qualquer moldura que tentem lhes impor!
Vivem a me surpreender
e ter a oportunidade de conviver com elas é receber uma lição nova a cada dia.
Lição de vida, de solidariedade, de luta!
À
elas a minha admiração e o meu profundo respeito.
E
um beijo para quem tem a coragem de ser travesti!
Gay e 'Bichinha' - texto do Blog Ideias Canhotas
__._,_.___
Um comentário:
nem li
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