O primeiro homicídio deste ano foi registrado na madrugada de ontem em plena região central; há três testemunhas.
Bauru registrou na madrugada de ontem o primeiro
homicídio do ano. O crime aconteceu no cruzamento entre as ruas Borba Gato e
Benjamin Constant, área central da cidade. A vítima foi o cabeleireiro Josimar
Ferreira Severino, 23 anos, executado com cinco tiros em seu ponto, onde se
apresentava como travesti. Entre os colegas, Josimar era conhecido como
Safira.
Os cinco estampidos dos tiros que
silenciaram a vítima foram ouvidos por um morador de um prédio nas imediações.
Foi ele que, ao acordar assustado, ligou para a Polícia Militar. Para ele, que
teve sua identidade preservada por questões de segurança, o autor do crime é um
homem que ele viu correndo pela rua Borba Gato em direção a Avenida Rodrigues
Alves, logo após os tiros.
“Eu estava dormindo com a janela
aberta. Ouvi quatro disparos e mais um, após uma pausa. Corri para a janela e vi
um sujeito descalço correndo na direção da Rodrigues Alves. Ele era magro, usava
uma camiseta branca e um short”. A descrição corresponde às características do
assassino fornecidas por outras três testemunhas que presenciaram o homicídio
(leia mais abaixo).
O morador correu para o telefone e
acionou a polícia, sem saber exatamente o que havia ocorrido. “Eu liguei e
contei que ouvi os disparos. Tinha certeza que não era rojão, as explosões são
diferentes. Eu não sabia, até então, o que estava acontecendo e o local exato.
Logo vi uma viatura chegando. Imaginei que o criminoso tinha sido preso. Porém,
não fui para o local.”
A constatação da morte do
cabeleireiro foi feita inicialmente pelos policiais militares e, posteriormente,
confirmada pelo médico plantonista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu) que esteve no local e constatou o óbito. O delegado plantonista, assim
como o delegado da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) Cledson Luiz do
Nascimento. A família da vítima foi procurada, mas não foi encontrada.
Tá lá o corpo estendido no
chão....
O corpo do cabeleireiro ficou
estendido na calçada e o sangue e coágulos espalhados, comentou uma moradora da
região. “Eu passeio com minha que é uma idosa e vi que o local não tinha sido
lavado. É constrangedor. Cenas de crime assustam a gente.”
A moradora comenta que a região,
antes bastante habitada por famílias, virou comércio por conta dos pontos de
prostituição e tráfico de drogas. “Depois das 19h, não podemos sair de casa. Se
alguém quiser nos visitar, é abordado por um travesti ou uma prostituta. Nós
estamos vivendo uma situação constrangedora.”
As discussões seguidas de brigas e o
tráfico de entorpecente são constantes. “A grade de minha casa é aberta. Não
raras vezes encontro pedras de crack e maconha escondidas aqui. Eles abandonam a
droga quando percebem que a polícia está por perto”, contou outra
moradora.
Ela confessa que ouviu os disparos de
arma de fogo, mas não se arriscou a abrir a porta. “A gente não sabe o que está
acontecendo lá fora. Vi o sangue hoje pela manhã. Tenho medo, alguns são
agressivos. Cansei de acionar a polícia para dizer o que estava ocorrendo.
Muitas vezes eles nem mandam a viatura.”
A moradora ressalta que o tráfico de
drogas corre solto e obrigou a prefeitura a retirar umas pedras grandes que
decoravam a praça. “Havia três pedras. Elas serviam para esconder drogas. Foram
retiradas, mas o caso não se resolveu.”
Outro morador que também teme pela
segurança, reclama. “Não temos liberdade de ir e vir. Mora aqui há três anos e
está difícil. Eles mexem quando a gente passa. Tomam as ruas dos dois lados e
não podemos caminhar por aqui depois das 19h.”
Investigações
Safira foi alvejada por cinco tiros.
Três deles no peito, um na cabeça e outro na perna, comenta o delegado Cledson
Luiz do Nascimento, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), que começa hoje
a afinar as investigações com o objetivo de chegar ao autor do homicídio e as
razões que o levaram a usar a arma de fogo.
“Estive no local. Ao lado do corpo
foi encontrada a bolsa usada pelo cabeleireiro. No interior dela localizamos uma
faca. Os colegas de profissão de Safira contaram que ele costumava ameaçar
cliente com a arma branca. Ainda não temos um suspeito, por enquanto não
descartamos nenhuma hipótese.”
No interior da bolsa de Safira,
segundo o delegado, não foi localizada droga. “Pode até ser que seja cobrança de
dívida, mas isso não ficou claro no local. Vamos investigar essa
hipótese.”
Diabólica...
No perfil da rede social Orkut,
Safira diz um pouco daquilo que ela foi. “... diabólica quando precisa
agir...”
Segundo informações extraoficiais,
Safira tinha denunciado o ex-namorado à polícia. Ele estaria preso, em função
disso. No ano passado, de acordo com a mesma fonte, Safira teria sido a autora
do roubo contra um taxista. Ela teria usado uma faca e tentando cortar o pescoço
da vítima.
Região estatisticamente
calma
Estatisticamente, a região onde
ocorreu o homicídio é calma, frisa o comandante da Base Comunitária Centro/Sul
da Polícia Militar (PM), capitão Paulo César Valentim. “Não temos número
alarmante de furtos, roubos e homicídios nessa área. É um espaço ocupado por
prostitutas e travestis que fazem ponto nas imediações. Nossas viaturas costumam
abordar os clientes.”
Sobre o tráfico de drogas, o capitão
pede aos moradores que denunciem, ainda que anonimamente. “Não há denúncias de
tráfico. Vou incrementar o policiamento, precisamos de informações dos
moradores. Eles podem passar as informações através dos telefones: 190 (Copom),
3232 1516 (Base Centro) e 3227 6266 (Base Sul).”
Três testemunhas do
crime
Pelo menos três testemunhas
presenciaram o assassinato de Safira. Trata-se de três homens que passavam pelo
cruzamento entre as ruas Borba Gato e Benjamin Constant em um Gol preto no
momento em que o crime ocorreu.
Segundo a versão apresentada no
Plantão Policial, a vítima foi morta por volta da 1h30 por um homem forte, com
1,70 metro de altura, cabelos pretos e curtos. Ele vestia um short preto e uma
camiseta branca que foi usada para encobrir seu rosto até a altura do
nariz.
O criminoso teria feito o primeiro
disparo pelas costas. Safira teria tentado se apoiar no muro, mas caiu no chão
de joelhos, quando outros dois tiros teriam sido efetuados na região do tórax.
Um último disparo foi dado à queima-roupa, na cabeça da vítima.
A arma utilizada, aparentemente,
seria uma pistola, segundo descrição das testemunhas. Com medo, os ocupantes do
Gol fugiram ao serem avistados pelo assassino e procuraram a polícia somente na
manhã de ontem.
Associação não acredita em
crime de homofobia
A Associação Bauru pela Diversidade
aposta que o crime não tem relação com homofobia. “Ela estava jurada de morte,
pelo que soube. Eu não acredito que ela foi morta porque era travesti, que era a
nossa preocupação”, declarou ontem o presidente da ABD, Marcos
Souza.
Segundo ele, em quatro anos, este é o
primeiro assassinato contra travesti na cidade. “Isso ainda é novo para a
associação. Pretendemos acompanhar as investigações porque o histórico que temos
no Brasil é que somente 15% desse tipo de crime chegam a ser apurado. Muitos
ficam sem solução. Gostaria que em Bauru fosse diferente.”
Safira não era vinculada à ABD, de
acordo com o presidente. “Eu não a conhecia. Temos pouco contato com o pessoal
que trabalha na Ezequiel Ramos e Nações Unidas. Fazemos um trabalho preventivo
de DST/Aids com eles, os encontros são esporádicos.”
FONTE: JORNAL DA CIDADE DE
BAURU/ Rita de Cássia Cornélio/ Com Tisa Moraes
08/01/12 23:00 - Editoria
Bairros
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