Por Alexandre Vidal Porto
Mestre em Direito. Diplomata e escritor
Fonte Folha de S. Paulo
“Na década de 1920, a cidade de Berlim conheceu um dos períodos mais
tolerantes da história em relação à homossexualidade. Casais do mesmo
sexo eram tratados com respeito, e a cultura homossexual era aceita sem
constrangimentos. Essa situação propícia se manteve até a emergência de
Adolf Hitler, que mandou dezenas de milhares de homossexuais para campos
de extermínio, todos com um triângulo rosa no peito.
No Brasil, ocorre situação análoga. Lentamente, a conquista pela
igualdade de tratamento para os homossexuais avança. Mas a luta é
inglória. Quando se pensa que os avanços estão consolidados, surge um
Silas Malafaia, um Jair Bolsonaro ou um Ives Gandra Martins para lembrar
que a questão está longe de ser resolvida.
O último nessa linhagem de homofóbicos é o ator Marcelo Serrado, que
interpreta o personagem homossexual Crô, na novela “Fina Estampa”. Em
entrevista à jornalista Mônica Bergamo, publicada na edição do último
domingo deste jornal (“Arrasa, bii!”), Serrado expôs seu preconceito
abertamente ao declarar que não gostaria de que a sua filha de sete anos
visse um beijo gay na televisão.
Em sua conta no Twitter, o ator negou que fosse preconceituoso. Como se não querer que uma criança assista a um beijo gay nada tivesse de discriminatório. Exatamente como a senhora que diz que não é racista, mas que preferiria que a filha não se casasse com um negro.
Em sua conta no Twitter, o ator negou que fosse preconceituoso. Como se não querer que uma criança assista a um beijo gay nada tivesse de discriminatório. Exatamente como a senhora que diz que não é racista, mas que preferiria que a filha não se casasse com um negro.
A maneira como Serrado educa a sua filha é problema dele. Não se
condena o teor de suas declarações preconceituosas, porque a homofobia
ainda não é crime no Brasil. O condenável em sua atitude é a negação do
óbvio. Ele tem o direito de educar a sua filha como quiser, mas não pode
enganar a população tentando descaracterizar a natureza do seu
preconceito. Ou seja, Serrado é um homofóbico no armário. Precisa sair
dele.
Serrado terá alcançado o auge da sua fama às custas da
ridicularização dos homossexuais. Para ele, explorar a homofobia da
sociedade brasileira deu certo. Para a Rede Globo, também, porque os
índices de audiência da novela são altos. É triste, porém, que uma
emissora de televisão preste tal desserviço à consolidação da cidadania.
A imagem desrespeitosa que a televisão brasileira difunde dos
homossexuais pode dar lucro às emissoras e aos atores. No entanto, causa
prejuízo ao Brasil como um todo, porque solapa os esforços do governo e
da sociedade no combate ao ódio e à intolerância. A caricatura
homossexual que Aguinaldo Silva compôs e que Marcelo Serrado se presta a
interpretar, por exemplo, levará anos para ser desmantelada no
imaginário da nação. Produzirá discriminação e gerará violência.
Em defesa da novela, poder-se-ia falar em liberdade de criação
artística. No ataque, porém, é necessário recordar a noção de
responsabilidade social, que as redes de televisão têm o dever de
preservar.
Homossexuais caricatos sempre existiram. Não temos de negá-los. Pergunto-me, no entanto, em que novela ou reality show estarão os homossexuais comuns, que têm relações estáveis, acordam cedo para ir trabalhar e levam uma vida convencional. Eles também existem. São muitos. Pagam impostos e exigem respeito. Ah, e beijam-se também, Marcelo Serrado, como qualquer ser humano normal. Querer ocultar esse fato de sua filha ou de quem quer que seja constitui homofobia, quer você queira, quer não”.
Homossexuais caricatos sempre existiram. Não temos de negá-los. Pergunto-me, no entanto, em que novela ou reality show estarão os homossexuais comuns, que têm relações estáveis, acordam cedo para ir trabalhar e levam uma vida convencional. Eles também existem. São muitos. Pagam impostos e exigem respeito. Ah, e beijam-se também, Marcelo Serrado, como qualquer ser humano normal. Querer ocultar esse fato de sua filha ou de quem quer que seja constitui homofobia, quer você queira, quer não”.
Um comentário:
Marcelo, que papelão!
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