Ana Cláudia Barros
TERRA MAGAZINE
Campeã de crimes homofóbicos por seis
anos consecutivos, a Bahia começa 2012 como o Estado que mais contabilizou
mortes de homossexuais. Dos 20 casos notificados no País durante os primeiros 20
dias de janeiro, seis aconteceram no Estado nordestino - quatro deles na capital
Salvador -, segundo informação do Grupo Gay da Bahia (GGB).
A entidade denuncia que a média de
assassinatos de LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) aumentou nos
últimos cinco anos no Estado. De 2000 a 2006, foram totalizadas 84 mortes. Já
entre 2007 e 2011, foram 122 casos - uma média de 24,4 por
ano.
Em entrevista a Terra Magazine, o fundador da entidade, o
antropólogo Luiz Mott, afirma que a violência contra homossexuais na Bahia
chegou a seu "limite máximo de insuportabilidade". Ele adianta que a instituição
aventa a possibilidade de iniciar uma ação internacional junto a Organização dos
Estados Americanos (OEA), denunciando o Estado por improbidade administrativa e
prevaricação.
Mott destaca que o governador Jaques
Wagner (PT) e a primeira dama são reconhecidamente amigos históricos dos gays,
mas a política governamental para o segmento LGBT não está funcionando. "Não é
uma guerra contra o governo", esclarece.
Na avaliação do antropólogo, a
impunidade dos crimes homofóbicos é o maior incentivo ao aumento desse tipo de
criminalidade.
- Ela é um fator gravíssimo e estimula
indiretamente novos crimes. Há mais clamor popular e reação policial quando se
mata um cachorro ou um animal selvagem do que quando se mata um homossexual. Há
uma falta de indignação, de comoção. A sociedade naturalizou esse tipo de crime
e condena dizendo que, na verdade, a vítima foi o réu. Ela foi culpada por ter
"optado" por uma vida de risco.
Ele enfatiza que em alguns dos
assassinatos, a homofobia não é explícita, mas cultural e
institucional.
- Mesmo em crimes (ligados a
homossexuais) envolvendo outros ilícitos, como drogas, prostituição, a homofobia
institucional e cultural está por trás. As travestis estão na "pista" porque
sofreram bullying na escola, não estudaram, não tiveram opção. Muitos gays, por
conta do stress da discriminação familiar, se drogam -
argumenta.
251 casos em 2011
Dos seis mortos na Bahia, três eram
gays, duas eram lésbicas e um, travesti. Há seis anos, no Estado, matam-se mais
LGBTs do que em São Paulo, cuja população é três vezes maior. A segunda
localidade onde mais homossexuais foram assassinados nos primeiros dias de 2012
foi Rondônia, que contabilizou dois casos. Nos outros Estados que completam a
lista houve uma morte em cada, conforme o GGB.
A entidade, que está finalizando o
relatório anual de assassinatos de homossexuais no Brasil, adiantou
a Terra Magazine que em 2011 foram registrados 251
homicídios de LGBTs no País, nove a menos do quem em 2010, quando houve recorde
histórico com 260 mortes. Os dados serão apresentados após o Carnaval, no
relatório anual divulgado pela instituição.
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