segunda-feira, dezembro 05, 2011

Meu sexo não é meu gênero

«Garota ou garoto, meu sexo não é meu gênero» em Arte: a entrevista da realizadora
Publicado por Yannick Barbe | Dans LSF,Télé
Domingo, 23 de outubro, às 22h50, em Arte, não perca sobretudo Garota ou garoto, meu sexo não é meu gênero, um documentário apaixonante assinado Valérie Mitteaux. De Paris a San Francisco, passando por Barcelona e New York, a realizadora traça o retrato de quatro trans’ FtM que testemunham de seus percursos.
A palavra é livre, rica, variada: uma verdadeira felicidade enquanto que a polêmica sobre a «teoria do gênero» nos manuais escolares alimentada pelos guardiões da ordem moral e heteronormativa (Christine Boutin, da Direita popular & companhia.) é sempre atual.
Nós pedimos a Valérie Mitteaux, a realizadora, para nos dizer mais sobre seu filme. A guisa de ilustração, ela nos fez chegar uma foto d’ela criança (ver abaixo), quando ela era «um pouco tomboy» – um clichê que poderia muito bem figurar no nosso blog Já, tão pequeno… La classe, quoi.
Valérie Mitteaux, infante.
O que a levou a abordar as questões de gênero nesse documentário? Eu era um pouco tomboy criança e mais tarde, perto dos 20 anos, eu tive uma sorte de revelação, a de ser nem mulher, nem homem, de estar em um tipo de terreno vago do gênero. Eu digo «revelação», por que este pensamento tinha um caráter de auto-verdade. Veio de um dado fundamental de minha personalidade. Eu não tive o desejo de modificar meu aspecto físico. Eu somente me deixei ir por meu próprio gênero, sem necessidade de me colar une etiqueta. O que para mim significa se libertar do fato que os Outros esperam de você um certo tipo de comportamento em função de sua assignação de nascença. E pois obrigado! No conjunto vivemos sempre, na França em particular, em sociedades muito sexistas e o que esperamos das pessoas nascidas de sexo feminino, não é verdadeiramente nem agradável, nem criativo!
E depois, numerosos anos mais tarde, via Wendy Delorme, amiga muito querida, eu encontrei Lynn Breedlove, que tinha se autoproclamado «homem». A liberdade com a qual ele vive seu gênero revelou em mim a problemática. Eu desejei fazer um filme. Tanto que Lynnee, para além das questões de gênero, é uma pessoa formidável de humor, de inteligência, é um filósofo do cotidiano pleno de amor. Em seguida eu encontrei Rocco Kayatos, Kaleb depois Miguel Missé, todos três igualmente poderosos, alegres e orgulhosos do que eles são.
Você fez a escolha de só entrevistar trans’ FtM, porquê? Por que o desejo de fazer esse filme parte de minha experiência pessoal. É sempre um ponto de partida para mim quando eu penso em uma nova ideia de filme. Falar do que conhecemos, o que sentimos profundamente me parece ser uma chave de entrada essencial. Em seguida eu quis que o filme tivesse uma dimensão feminista. E fortemente eu creio compreender a alucinação que representa o fato de viver os privilégios do masculino, a consideração suplementar imediata que ganhamos por ser percebidos no masculino, quando viemos do gênero oprimido. Isso tem de repente um caráter incontestável. E isso me parece ser uma maneira de provocar os cliques nos espíritos, tão bem entre certas mulheres que estimam, por engano segundo eu, que o feminismo é uma luta obsoleta para os homens que, pela maior parte, não têm qualquer consciência dos privilégios dos quais eles gozam. Ou que preferem fazer como se eles o ignorassem. Abandonar esses privilégios sendo frequentemente alguma coisa que fazemos a contragosto!
Você fez igualmente a escolha de não se limitar a testemunhos realizados na França. Por quê? O filme se articula em torno das quatro pessoas centrais, Lynnee, Rocco, Kaleb e Miguel. Encontramos também a intervalos regulares um grupo de garotos trans’ parisienses em torno de Kaleb. Eu desejei que isso formigace, que não tivéssemos o sentimento assistindo ao filme que esse tipo de percurso é raríssimo. É também uma maneira de mostrar que podemos ser trans’ FtM como o desejarmos, se autoproclamar como Lynnee, se fazer operar ou não, tomar hormônios ou não, em suma que há tantos gêneros quanto indivíduos. Eu quis também que o olhar do espectador neófito fosse confrontado a estéticas diferentes, que ele não saia do filme com uma ideia estereotipada das pessoas trans’ FtM e que a multiplicidade dos intervenientes fosse que não fosse mais dentro da observação do «mais ou menos masculino», «mais ou menos feminino», mas apenas pessoas que se sentem bem por que elas são justamente endereçadas por elas-mesmas.
Uma das passagens mais fortes do documentário, são as discussões corridas entre vários transboys que você conseguiu captar. A gente sente uma palavra bem livre e que a gente ouve muito pouco na televisão. Era o objetivo? Sim, o que é forte é de uma parte que eles falam sem temor de seus cotidianos, de coisas bem concretas. Mas também que eles não estão de acordo sobre tudo. Eu quis a todo preço evitar a cerca comunitária ou o lado sectário, no sentido primeiro de «sector». Um deles reivindica seu ideal, «uma mulher, une casa, um carro», ele sabe que seus seis camaradas vão zombar dele, mas ele assume. Um outro no fim do filme tem uma sorte de revelação em live, sobre o fato de que sua experiência pessoal lhe abre o espírito, que ele tem um olhar sobre o mundo «mais amplo».
Pessoalmente eu me bato contra as veleidades de normalização ou de ideias todas feitas sobre o que deveria ser um ou uma homossexual, e aqui da mesma forma sobre uma imagem monolítica do transgenderismo. Dentro do espírito de Christine Delphy que demonstra magistralmente em seu livro Classer dominer. Qui sont les autres? que é sempre a maioria que decide pela minoria como ela deve ser e se comportar. Mais uma vez, nós estamos aqui com indivíduos antes de estar com trans’. E nós somos todos os frutos de camadas superpostas de dados, nossas histórias familiares, nossas origens, étnicas, sociais… Cada indivíduo é uma soma de complexidade.
Qual é o testemunho que te mais tocou? Eu tenho bastante carinho e interesse por cada um dos intervenientes do filme. Mas eu creio precisamente que em termos de complexidade, e adoro a passagem em que Lynnee reivindica seu direito a se comportar como um Americano médio, com sua parte de blagues colegiais um pouco pesadas. Aí também, isso abre o campo no sentido em que isso não é por que você é trans’, que você está restrito a ser um indivíduo exemplar e perfeito. Bem, com um pequeno bemol concernindo a relação às mulheres. Lynnee diz em uma entrevista que eu não utilizei que ser sexista ou violento com as mulheres, quando somos uma mulher biológica e que passamos para o masculino, é para ele uma traição. Eu acrescentaria que é uma ausência total de cultura política e de solidariedade.
Seu documentário é difundido enquanto que uma polêmica acontece sobre a «teoria de gênero» nos manuais escolares. Qual é seu sentimento sobre essa polêmica? Isso atesta de uma parte da confusão ainda corrente entre sexo e gênero. Eu escuto comentários de corredores que compreendem que vamos confrontar as crianças à sexualidade, à orientação sexual e que podemos bem deixa-las em paz com essas questões as quais elas poderão refletir mais tarde. Enquanto que se trata, sobretudo, com toda evidência, de liberá-las da agonia de ser talvez diferentes e também de fazê-las refletir sobre as desigualdades homem/mulher ainda fortemente presente. E depois eu não gosto dessa ideia da criança pura e não sexual. Há uma sexualidade das crianças, evidentemente. As crianças têm pulsões. Bem seguramente esse discurso incomoda pelo fato da recrudescência de casos pedófilos. Mas enfim está claro que não há mais pedofilia hoje do que antes. Os casos aparecem, enquanto que antes os abafávamos tão bem que mal, é isso.
Além disso, eu penso que há ainda uma decalagem perniciosa entre a abertura de espírito dos cidadãos e o dos políticos. Os políticos partem sempre do princípio que seus concidadãos são reacionários, que eles têm medo que a sociedade mude, pela razão simples de que sua preocupação essencial é sua reeleição e a manutenção de seus poderes. Começamos, por exemplo, a ver documentários sobre os filhos adolescentes que foram criados por pais de mesmo sexo. Quando eu ouço um ado criado por duas mulheres, sua mãe biológica e sua amiga, dizer «hoje eu tenho uma namorada. Mas é certo que se amanhã eu tiver uma atração por um garoto, isso não será para mim um problema», eu me digo que avançamos e que a heteronorma acabará bem por quebrar.
O documentário (que será em seguida visível no Arte +7) faz parte de uma soirée Tema intitulada Novo gênero, que compreende igualmente a difusão às 20h40 de Victor Victoria, a obra-prima de Blake Edwards.
Fotos DR

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