SIMON
ROMERO
FORTALEZA, BRASIL
Líder evangélico emerge em meio a guerra cultural
no Brasil
Mauricio Lima
for The New York Times
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Os Livros SILAS MALAFAIA, que vendem aos milhões
no Brasil, têm títulos tais como "Como derrotar as estratégias de Satanás" e
"Lições de um Vencedor". O seu jato privadoGulfstream trás em sua fuselagem a
inscrição em inglês “God´s Favor” ou "Favor de Deus.
Como tele evangelista de televisão, o Sr. Malafaia
atinge espectadores em dezenas de países, incluindo Estados Unidos, onde a
Daystar e Trinity Broadcasting Network transmitem seus sermões. Por mais de 30
anos, o Sr. Malafaia, 53, vem reunido em torno de sua pregação pentecostal
igrejas prosperas e os mais diversos empreendimentos.
Apesar disto, Sr. Malafaia, jamais teria atraído
qualquer atenção para além de seus próprios seguidores e fieis de sua igreja se
ele não tivesse se colocado em tanta proeminência no que podemos chamar de
versão brasileira de guerra cultural. Afinal, o Brasil tem outros líderes
evangélicos que comandam grandes impérios, como Edir Macedo, cuja Igreja
Universal do Reino de Deus controla a Rede Record, uma das maiores redes de
televisão do Brasil. Outros, como Romildo Ribeiro Soares, da Igreja
Internacional da Graça de Deus, são conhecidos por maior zelo
missionário.
Mas é o Sr. Malafaia que recentemente atraiu a
maior atenção, quando apontou seus ataques verbais contra uma ampla gama de
inimigos, incluindo os líderes do movimento gay do Brasil, os defensores do
direito ao aborto e apoiantes da descriminalização da maconha.
"Eu sou o inimigo público n º 1 do movimento gay
no Brasil," disse Malafaia em uma entrevista este mês em Fortaleza, uma cidade
no nordeste do Brasil, onde ele levou uma de suas "cruzadas", um evento
misturando pregações e música para cerca de 200.000 pessoas, onde lágrimas
correm dos rostos de alguns dos participantes mais apaixonados, enquanto outros
dançam ao som das performances de abertura do evento.
Antes de subir ao púlpito, o Sr. Malafaia nos
contou como se tornou um cobiçado convidado de programas de TV, atuando como
antagonista em debates com a liderança gay. Mas isso é apenas uma pequena parte
de seu repertório. Televisão é apenas um dos muitos meios à disposição do Sr.
Malafaia. No Twitter, ele tem quase um quarto de milhão de seguidores e em
vídeos distribuídos no YouTube, ele não só ataca seus liberais, mas também
jornalistas e líderes evangélicos rivais.
Não surpreendentemente, sua proeminência crescente
fez dele fonte de admiração e inquietação. Ele mobilizou este ano milhares de
pessoas em uma passeata na capital do país, Brasília, contra um projeto de lei
que visando ampliar legislação anti-discriminação para incluir a orientação
sexual.
"Ele é como Pat Robertson, no sentido de ser um
pioneiro na movimentação da direita evangélica brasileira para a esfera política
nacional", disse Andrew Chesnut, especialista em religiões latino-americano da
Virginia Commonwealth University, comparando o Sr. Malafaia para o evangelista
de televisão favorito dos conservadores americanos.
[...]
Em um ensaio em novembro, a jornalista Eliane Brum
escreveu sobre a crescente intolerância de parte dos evangélicos para com ateus
e ainda sobre o que ela chamou de "uma disputa cada vez mais agressiva por
participação de mercado" entre as grandes grandes igrejas brasileiras.O ensaio
de Brum desencadeou uma onda de reações entre os pentecostais e as palavras do
Sr. Malafaia estavam entre as mais cáusticas.
Durante esta entrevista , o Sr. Malafaia chamou a
Sra. Brum de "vagabunda", e repetiu diversas vezes a sua afirmação de que "os
ateus comunistas" da antiga União Soviética, Camboja e Vietnã foram responsáveis
por mais mortes do que "as guerras de origem religiosa."
Por caricatura ou padrão, a linguagem agressiva do
Sr. Malafaia tem, frequentemente, se tornado um espetáculo para a mídia. Em
novembro, a Revista Época informou que o Sr. Malafaia, durante comentários em
uma tensa entrevista concedida ao noticioso, tratando da tomada de medidas
legais contra Toni Reis, um proeminente, um defensor dos direitos gays, Malafaia
disse que iria "fornicar" Sr. Reis. Sr. Malafaia soltou uma explicação dado
conta que ele tinha, de fato, dito que iria "funicar" Sr. Reis. Contudo, quando
os pesquisadores informaram que não tinham sido capazes de encontrar a palavra
dita por Sr. Malafaia em nenhum dos dicionários de referência da língua,
Malafaia informou ser esta é uma gíria significando algo como
"trucidar".
A visibilidade do Mr. Malafaia obtida em tais
episódios tem alimentado dúvidas sobre suas ambições políticas. Ele disse não
ter vontade de se candidatar a nada, pois isto poderia torná-lo em dívida com um
partido político específico, limitando assim a visibilidade que ele tem
agora.
"Deus me chamou para ser um pastor", disse ele, "e
não vou trocar isto para ser um político."
Mas influência política é outra questão. Sr.
Malafaia disse que votou duas vezes para o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio
Lula da Silva, e durante anos teve acesso aos corredores do poder de Brasília.
Mas ele também contou uma anedota sobre a sucessora de Lula, a Presidente Dilma
Rousseff, que sugere quão importantes as figuras evangélicas estão se tornando
no cenário eleitoral. Ele disse que ela falou com ele por telefone durante 15
minutos durante a campanha presidencial do ano passado, tentando atrair o seu
apoio. Mas ele disse que recusou por causa de diferenças ideológicas com o
Partido dos Trabalhadores do governo do Sr. da Silva, um ex-líder trabalhista, e
Sra. Rousseff, uma ex-participante em um grupo guerrilheiro. Eu disse a ela: 'Eu
não tenho nada pessoal contra você. Eu acho que você é uma mulher inteligente e
qualificada ", disse ele. "Mas como posso votar em você se eu passei quatro anos
lutando com um grupo de seu partido que quer apoiar um projeto de lei que
beneficia gays e me prejudica?“
MR. Malafaia contava estas estórias agitado, em um
português cada vez mais carregado de sotaque carioca, enquanto cortava o ar com
seus dedos adornados com anéis de ouro e diamantes incrustados.
Sua persona ganhou quase o status de
estrela do rock entre alguns apoiantes. "Eu não o reconheci sem bigode", disse
Erineide Mendonça, 39, uma empregado do hotel de Fortaleza onde o Sr. Malafaia
estava hospedado, referindo-se ao cabelo facial, uma marca registrada que
Malafaia manteve por longos anos. "Mas eu reconheci a voz dele", disse ela,
pedindo para ser fotografada com o evangelista que ela adora.
Tanto o Sr. Malafaia como a sua esposa, Elizete,
são formados em psicologia, e quando ele sobe ao púlpito, sua voz ecoa nos
sermões carregados de lições de auto-ajuda e perseverança.
Seu tema favorito envolve o sucesso e como
alcançá-lo. Enquanto ele próprio diz viver em relativa humildade, não como um
milionário.
Malafaia não se desculpa por sua própria ascensão
material. Na verdade, ele a celebra, divulgando, por exemplo, o seu
Mercedes-Benz – uma doação de um amigo próspero, explica. Há também o
exclusivíssimo jato particular Gulfstream, adquiridos de segunda mão nos Estados
Unidos, disse Malafaia, não por ele, mas por sua organização religiosa sem fins
lucrativos, a um preço razoável.
"O papa voa em um jato jumbo", disse referindo-se
ao avião fretado à Alitalia que transporta o bispo de Roma. E denuncia o que
parece ser um comportamento de duplo padrão de julgamento: "Mas, se um pastor
viaja em um avião a jato particular com algum uso, ele é considerado um
ladrão."
Tradução Genizah
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