sexta-feira, agosto 26, 2011

O Globo - um teste de tolerancia


 
Zona Sul

Reações na vida real

Um teste de tolerância

Embora muitas vezes esteja disfarçado pelo discurso do politicamente correto, o desconforto diante de uma demonstração de carinho entre homossexuais não só existe como é facilmente percebido na região. Inspirada em cenas de preconceito exibidas em “Insensato coração”, novela da Rede Globo que terminou na última sexta-feira, a equipe de reportagem do GLOBO-Zona Sul foi às ruas para fazer uma espécie de teste de tolerância — será que a vida imita a arte? Acompanhando dois casais gays — um formado por homens e o outro, por mulheres —, repórteres e fotógrafos registraram as reações provocadas por beijos, abraços, toques e outras manifestações de afeto.
Numa bonita tarde de sábado, o passeio de dois homens pela Praia de Copacabana causou um pequeno alvoroço. Ao caminharem de mãos dadas, trocando carinhos, o ativista social Felipe Gomes, de 30 anos, e o
arquiteto José Maurício Lima, de 40, provocaram reações que variaram de olhares arregalados a comentários maldosos. Houve, é claro, quem encarasse o casal com naturalidade, mas não foi o caso da maioria.
Na altura do Posto 5, um grupo de pessoas, na faixa dos 60 anos, trocou cutucões e cochichos ao avistar o casal. Um homem balançou a cabeça em sinal de reprovação. No entanto, ao ser abordado pela equipe de reportagem, negou ter preconceito em relação a homossexuais:

— Não estávamos falando deles, não. Por acaso, conversávamos sobre a novela. Todos nós torcemos para que os gays tivessem um final feliz. Só acho que a praia não é lugar disso, afinal, passam muitas crianças por aqui.

Mais à frente, perto do Posto 6, uma mulher de aproximadamente 30 anos também não disfarçou o incômodo ao ver Gomes e Lima de mãos dadas. Chegou a virar o pescoço quando o casal passou por ela e o acompanhou com olhos até onde pôde. Depois, reconheceu que não faria o mesmo se a situação envolvesse um homem e uma mulher.
— Mas não tenho preconceito, fiquei olhando por curiosidade. Cada um tem seu gosto — afirmou.

Anoiteceu, e decidimos continuar o teste em dois bares: Boteco do Manolo, em Botafogo, e Garota do Flamengo. No primeiro, um homem de meia-idade não escondeu a irritação quando o casal escolheu uma mesa ao lado.

— Agora é assim? — perguntou a um garçom, que não esboçou reação.

O desconforto, nesse caso, foi tão grande que o homem pediu a conta e foi embora do bar deixando metade de um copo de chope para trás.

No Garota do Flamengo, onde vários clientes assistiam a uma partida de futebol pela TV, a presença do casal gay também não foi muito bem aceita. Um grupo de torcedores fez piadas e gestos de reprovação a cada beijo ou abraço de Gomes e Lima. Um homem que aparentava ter 50 anos se levantou e passou perto do casal dando um riso debochado. Já do lado de fora, não parou de encarar os dois, como se quisesse intimidá-los.
O convite para um passeio pela Zona Sul foi feito em cima da hora, mas a publicitária Cristiane Carvalho, de 40 anos, e a secretária Silvia Guimarães, de 32, aceitaram a proposta de imediato. As duas, casadas com reconhecimento legal de união homoafetiva, estão juntas desde 2006, e são mães adotivas de uma menina de 8 anos.

Levamos Cristiane e Silvia a Botafogo. Era uma terça-feira, e o horário não poderia ser mais conveniente para testar a reação das pessoas: passava pouco das 13h, as ruas estavam cheias de gente que ia almoçar ou voltava de algum restaurante.
Leia a reportagem na íntegra no caderno Zona Sul desta quinta-feira ou no GLOBO-Digital (Somente para assinantes)

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