quarta-feira, julho 27, 2011

Skinhead gay luta contra a homofobia pelas ruas de São Paulo


O skinhead Danilo, 29, que quebrou o braço durante confronto com policiais na marcha da maconha em SP

 
Aos 16 anos, Danilo se interessou pela cultura skinhead, de suspensórios, coturnos, tatuagens e cabeças raspadas. Entrar nessa tribo teria sido fácil, não fosse por um detalhe: ele é gay.
"Eu pensava: não dá para eu falar que sou skinhead porque os caras não gostam de gay." Naquela época, alguns carecas já ocupavam as páginas policiais dos jornais, com seus ataques a negros.
"Mas esses fascistas são minoria", assegura, apesar de ser alvo deles. Ele diz que a tribo cultural surgiu na Jamaica, nos anos 60, e se disseminou com imigrantes que foram trabalhar como operários na Inglaterra, no mesmo período em que o movimento punk também surgia nos subúrbios britânicos.
Ao explicar por que resolveu entrar para esse grupo, diz simplesmente: "Skinhead é um cara que gosta de ouvir ska, tomar cerveja e jogar futebol com os amigos."
Hoje, aos 29 anos, ele articula uma das vertentes que ajudou a criar, há dois anos: a Ação Antifascista, que reúne 136 pessoas na rede social Facebook.
O grupo também tem duas lésbicas skinheads, seis punks bissexuais e dois que se definem como assexuados. O restante é heterossexual, mas defende a luta contra a homofobia.
"Somos contra qualquer tipo de preconceito e lutamos pelas liberdades."
Eles costumam se reunir em botecos, semanalmente, mas agora terão uma sede própria, com direito a eventos para tentar desmistificar a ideia de que todo skinhead e punk é brutamontes.
Desde que foi criado, o grupo já participou de uma marcha contra a homofobia que ocorreu no fim do ano passado (depois que garotos atacaram homossexuais com lâmpadas fluorescentes na avenida Paulista), de marchas contra o aumento do preço do ônibus, a favor da legalização da maconha e, mais recentemente, esteve na Parada Gay.
Pela primeira vez, eles participaram do evento em grupo, empunhando uma faixa que dizia que punks e skinheads estavam juntos --o que já é raro-- contra a homofobia --o que foi surpreendente para muita gente, que chegou a aplaudir o grupo durante o desfile.
Até policiais se surpreenderam: os membros da Ação Antifascista chegaram a ser enquadrados minutos antes de começar a Parada e foram detidos quando se reuniam para organizar a participação, na quinta-feira anterior.
Em maio, na marcha da maconha que terminou em confronto com a polícia, Danilo quebrou um braço ao tentar fugir de uma bomba de efeito moral. Ficou uma semana internado e, três dias depois de sair do hospital, foi atacado por uma gangue neonazista chamada Front 88.
Hoje ele evita a Galeria do Rock, a rua Augusta, a Paulista e a Liberdade, onde essas gangues se reúnem, por ser alvo fácil: "É como se eu andasse com uma setinha: aqui, anarquista, skinhead e homossexual, bata nele."

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