sábado, abril 09, 2011

Vida fácil? Não para as travestis!

Prostituição/Colocar a roupa justa e se expor no meio das ruas em busca de clientes para a prostituição é apenas uma das muitas dificuldades que as travestis têm de enfrentar todos os dias para ganhar a
vida. Lidando contra o preconceito, a violência e a pobreza,
elas mostram que de vida fácil não têm nada

Nayara Felizardo Do Theresina.

A despedida do sol e as boas-vindas da lua marcam o momento da transformação. Maquiagem, roupa provocante e uma sandália muito alta não podem faltar na hora em que, como falam as próprias travestis, “o dragão se transforma em princesa” e sai para “batalhar a vida”.

Alegria e espontaneidade caracterizam esses homens. Coragem também não lhes falta, pois gritam diariamente, e de um modo polêmico, que se aceitam, se vestem e se consideram autênticas mulheres. Nesse momento, o pronome masculino some do vocabulário. Em vez de serem eles, são elas: as travestis. Mas assumir-se dessa forma não é uma tarefa fácil. E enfrentar a noite, fazendo programa com os mais diversos homens, tampouco.

Segundo a travesti Marcela, que já tem mais de 30 anos na prostituição, o trabalho não é respeitado sequer pelos homens que se utilizam dos seus serviços. “Nem sempre a gente ganha dinheiro e quase todo dia aparece um querendo dar balão. Eles combinam um preço e depois não querem pagar”, conta Marcela.

Recentemente, ela e mais duas travestis enfrentaram uma situação parecida, mas que fugiu do controle e terminou em cadeia. O cliente se negou a pagar o valor acordado e elas revidaram. “Pegamos o dinheiro que já era nosso.
Mas ele denunciou que a gente tinha assaltado”, conta Marcela.

O resultado foi 50 dias de prisão e muita revolta por serem acusadas de algo que não fizeram. “A polícia chegou aqui quebrando tudo e espancando a gente. Levaram como se fosse bicho bruto”, reclama Marcela. Já na Casa de Custódia as travestis tiveram que cortar o cabelo. “Era lindo, enorme. Foi mesmo que arrancar um pedaço de mim”, disse ela.

Em troca de tantas adversidades, as travestis nem sequer ganham o bastante para se manter de forma digna. O dinheiro que recebem por noite varia de R$ 30,00 ao máximo de R$ 200,00. “A cara dos homens é perguntar se podem dar R$ 10,00. Mas a gente não aceita porque é rebaixar a classe”, conta Marcela, que faz programa no balão da Tabuleta.

Mas considerando a discriminação que a sociedade ainda insiste em manter, a prostituição parece ser o único caminho. Muitas dessas travestis são analfabetas ou têm poucos anos de estudo, dificultando ainda mais a possibilidade de conseguir um emprego.

Segundo Rejane, a prostituição deveria ser apenas um entretenimento. “Se eu pudesse, trabalhava em outra coisa e ia para a rua só nos finais de semana”, admite a travesti. De todo modo, elas gostam de se produzir, de sair na noite e de mostrar que sabem fazer aquilo que vendem, o sexo.


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Travestis podem ficar sem moradia

As condições da casa onde vivem as cinco travestis são deploráveis. Em apenas um cômodo, nos fundos de outra residência, elas se dividem para dormir na única cama de casal. As paredes são feitas de barro e o piso é o próprio terreno. Mesmo assim, elas correm o risco de ficar sem o casebre.

Marcela conta que o terreno, na Vila Irmã Dulce, era de Carliane, uma travesti com a qual morou durante 20 anos. Há algum tempo ela morreu vítima de câncer de ânus, Aids e pneumonia. “A família nunca quis saber notícia. Até na doença quem cuidou foi a gente”, disse Marcela.

Antes de morrer, Carliane foi beneficiada em um programa habitacional e recebeu uma casa nova, mas não teve o prazer de morar nela. Agora, os familiares que nunca ajudaram a travesti, querem ter direito à casa e ao terreno onde fica o casebre. “E a gente precisa só desse lugarzinho. Eles podem ficar com o resto. Depois vamos construindo aos poucos outra casa”, afirma Marcela.(N.F.)


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Desprezo da família leva travestis à prostituição

A maioria das travestis se descobriu ainda na infância. E desde então enfrentam o preconceito de quem, na verdade, esperavam proteção. São os próprios familiares que acabam se tornando verdadeiros repressores e os maiores responsáveis pelo envolvimento dos filhos com a prostituição.

Aos 10 anos Marcela saiu de Luzilândia, onde morava com os pais. “Minha família me discriminava e eu brigava muito com meu irmão”, conta. Depois disso, a travesti passou por muitas cidades e, atualmente, é considerada uma verdadeira mãe por outras que estiveram na mesma situação e foram abrigadas por ela.

Esse é o caso de Y., um menino de apenas 17 anos e que se prostitui desde os 13. Ele assumiu a homossexualidade quando os avós tentaram contar o seu cabelo. “Sempre disseram que eu era diferente e, quando tiveram certeza, ameaçaram até de colocar pimenta no meu ânus. Para eles eu era uma aberração”, lembra Y.

Agora, a sua família é formada por quatro travestis que dividem uma casa. “A Marcela me diz o que é certo e o que é errado, me defende quando alguém quer me agredir na rua. Lá em casa, o aprendizado era o cinturão”, disse a travesti.

Y. conta ainda que é muito desejada pelos homens por ser nova e pela aparência de mulher. “Quando eu estou montada, qualquer um me confunde”, conta. Para melhorar o corpo, ela pretende colocar silicone nas pernas e nas nádegas, mas não tem condições para fazer isso em uma clínica autorizada e ainda reflete sobre os riscos que corre.(N.F.)

http://www.jornalmn.com.br/index.php?dia=2011-03-27&coluna=29

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