Durante muito tempo, personagens negros na TV e no cinema precisavam ter todas as qualidades possíveis, como que para "compensar" o fato de serem negros. Bastava terem um único defeito, e o autor ou diretor era logo chamado de "racista".
Há poucos anos, o grande Milton Gonçalves foi acusado de trair a causa negra ao fazer numa novela um político corrupto. Milton se revoltou, com toda razão: vilões costumam ser papéis melhores do que santos. Hoje já temos malvados de todas as cores, o que é ótimo.
Algo parecido está acontecendo com os gays. Os primeiros homossexuais que surigiram nas novelas brasileiras eram discretos, inofensivos, quase anódinos. Uma tentativa ultra-válida de mostrar ao grande público que gay não morde, que é "gente como a gente".
Frederico Rozário/TV Globo | ||
Daniel é apontado como um dos favoritos desta edição do "BBB11" |
Mas o tempo passou e o público evoluiu. Hoje os negros já podem ser maus na TV. Podem ter defeitos --como todo o resto da humanidade, é óbvio. E os gays também.
Daniel é o paradigma desta mudança. Não é espalhafatoso como Dicésar ou Serginho, estrelas do "BBB" do ano passado. Mas também não é nenhum santo.
E isto não parece incomodar o espectador. Pelo contrário: todas as enquetes apontam o pernambucano como um dos favoritos desta edição.
Um cara que bebe, fuma, dá vexame, admite que gosta de drogas e ainda por cima é uma biba assumidíssima, tem grandes chances de sagrar-se campeão e faturar um milhão e meio de reais!
Uma vitória de Daniel será simplesmente sensacional. Sinal de que o Brasil está amadurecendo, e aprendendo a conviver com as diferenças. E de que um gay não precisa mais ser perfeito em todos os quesitos para ser aceito e respeitado.
Ainda é cedo para comemorar, claro. Faltam muitos paredões --e até agora Dani só foi testado uma vez, o que é pouco para avaliar sua popularidade. Mas só fato de de ter chegado tão longe, com imperfeições e tudo, já é uma grande conquista.
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