segunda-feira, março 21, 2011

Agressão Boate Cine Ideal

Eu, Leonardo Peixoto, 26 anos, gay, morador da cidade do Rio de Janeiro, pedagogo, professor do município do Rio de Janeiro, fui expulso na madrugada deste sábado, dia 20 de março, por volta das 03:00 da Boate Cine Ideal, localizada na Rua da Carioca, 64 após presenciar agressão de um gogo-boy a um freqüentador da casa.

O gogo-boy desceu do “queijo” e deu dois tapas no peito de um freqüentador da casa. Ao presenciar a reação do gogo-boy, eu e meu amigo Paulo Victor procuramos a responsável pela gerência. Solicitamos que o gogo-boy fosse identificado e que a gerência tomasse alguma providência, uma vez que, enquanto gays e freqüentadores da casa, não poderíamos estar em um ambiente onde as pessoas eram tratadas dessa forma pelos funcionários da boate.

A gerente Cecília, disse que se o gogo-boy fez isso era porque ele tinha motivos. E perguntou se por um acaso fomos nós os agredidos. Argumentamos que nenhuma violência física cometida por um funcionário da casa é justificada, e que a gerência não poderia compactuar com tal postura. A gerente ignorou nossa reclamação, não dando a devida atenção e por muitas vezes olhando para o lado fazendo de conta que não estava falando com ninguém.

Identificamos a vítima da agressão no interior da boate e fomos conversar com o chefe da equipe de segurança Sr. Simões. Inicialmente, o chefe ouviu a reclamação e fomos conversar com a gerente Cecília. Nesse momento, Simões me pede para entrar na boate. Eu disse que estava acompanhando a conversa e que não iria sair dali, até porque já havia iniciado uma conversa anterior com a Cecília. Dois outros seguranças que estavam na porta da boate falaram para eu entrar. Eu disse que estava participando da conversa. Foi quando três ou quatro seguranças me colocaram a força para fora da boate. Tentei questionar o que estava acontecendo, mas fui ignorado e expulso da casa. Acionei o 190.

Quando a viatura chegou, os PMs pediram para que entrássemos na viatura eu e mais duas testemunhas, para nos levar à Delegacia. Foi quando um dos seguranças se aproximou da viatura e se apresentou como inspetor de polícia. Dizendo ao PM “Sou inspetor ‘fulano’ (não me recordo o nome) e o rapaz de azul (eu) não foi expulso da casa não. Ele pode entrar a hora que quiser.” O PM respondeu: “Mas ele está indo registrar ocorrência”. E partimos com a viatura.

O registro da ocorrência foi realizado na 1ªDP, após resistência do Inspetor de plantão, que alegou inicialmente que estávamos em local de “putaria” sabendo que só tem confusão e depois queríamos registrar ocorrência. Independentemente das opiniões pessoais do investigador, registramos a ocorrência, que será encaminhada para a 5ªDP.
Muitas coisas me revoltam nesse fato:
1 )      A falta de preocupação da gerência da casa em saber que um cliente foi agredido dentro do seu estabelecimento por um funcionário. Percebemos claramente que a política do estabelecimento acha que os gays devem ser tratados com violência, uma vez que ao questionar o fato também fui agredido e fui expulso da casa.

2)      A maneira como um inspetor de polícia, fora do seu local de trabalho, se apresenta aos PMs como “inspetor”, antes mesmo de falar seu nome. Qual era a intenção?

3)      A forma como fomos recebidos na Delegacia de Polícia, como se estivéssemos errados e como se não tivéssemos que registrar o fato.

Confesso que fiquei com medo, mas o medo não vai me silenciar. Peço o apoio de Toni Reis - ABGLT, Claudio Nascimento - SuperDir/Seasdh, Carlos Tufvesson - Coordenadoria da Diversidade Sexual Rio, Grupo Arco-Íris, ao meu partido PSOL, aos deputados eleitos pelo meu partido, em especial Dep. Fed. Jean Wyllys, para que este caso não seja mais um arquivado e enterrado. 

A luta aqui não é contra a gerente, contra o chefe de segurança da casa ou contra os inspetores de polícia. A luta é contra a política de uma instituição, que aparentemente está a serviço da comunidade LGBT, mas que na realidade se mostra pouco preocupada com os direitos dessa comunidade. Uma casa que foi palco de algumas festas de abertura oficial da Parada LGBT do Rio de Janeiro, mas que na realidade pouco se importa com o movimento. Uma boate relativamente nova, se comparada à boates tradicionais do Rio, e que mostra como o mercado LGBT vem se desenvolvendo. E qual é a relação que nós do movimento LGBT estamos estabelecendo com essas empresas? 

Lutamos também contra uma política de estado. É triste, mas a doce verdade é que estes inspetores de polícia, também são vítimas da política de segurança pública do Rio de Janeiro. Uma política de segurança pública que coloca o tempo todo a polícia armada contra a população. Que conseguiu através do discurso dizer que marginal e bandido é a mesma coisa. 

Sou um marginal. Mas saibam que o bandido não sou eu. Em algum momento roubaram de mim o direito de viver dignamente como todo cidadão homem, heterossexual, branco e de classe média/alta. Só quero de volta esse direito que é meu. Apesar de eu nunca ter visto, eu sei que ele existe.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já percebi esse tipo de homofobia no cine ideal... O problema, é que pessoas que se dizem héteros escolhem o cine para frequentar, e se estressam com qualquer insinuação de que eles são gays! Porque não vão pra outro lugar então? Mas já que a idéia é a de socializar, que pelo menos dentro dessa casa que é GLS seja IMPOSTO o respeito! Muito triste em ler essa notícia. W.Vieira - Manhuaçu-MG