quarta-feira, janeiro 05, 2011

Preconceito

AGORA - SP | EDITORIAL
AIDS
03/01/2011

Preconceito (Editorial)

Um estudante de pedagogia consegue ser aprovado num difícil concurso público para se tornar agente de zoonoses da Prefeitura de São Paulo, mas é impedido de assumir a função por ser portador do vírus da AIDS.
Preconceito? A prefeitura diz que não: argumenta que não barrou o estudante por ser SOROPOSITIVO, mas sim porque ele apresenta uma alteração no fígado que o deixa mais suscetível à contaminação por inseticidas.
O problema é que a alteração hepática é provocada pelo medicamento usado para combater o vírus. Um relatório do próprio Serviço de Atendimento Especializado da prefeitura atesta que o remédio pode levar à icterícia, mas adverte que isso não representa hepatite.
Infectologistas ouvidos pelo jornal sustentam que os soropositivos podem trabalhar normalmente e negam que o tratamento contra o vírus da AIDS possa aumentar o risco de contaminação por pesticidas. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil lembra que a discriminação contra portadores do HIV é inconstitucional. Mas a prefeitura está irredutível.
O salário da função nem é alto --apenas R$ 400 mensais, metade do que ele ganhava no setor de vendas. Mas havia a perspectiva de uma estabilidade que o setor privado não oferece.
O concursado já recorreu ao Conselho Regional de Medicina --que está em recesso-- e ao Ministério Público Estadual. Seu mandado de segurança, porém, ainda não foi julgado.
O Conselho Regional de Medicina tem de se pronunciar sobre o caso. Não é possível aceitar que as pessoas que conseguem sobreviver ao vírus sucumbam à discriminação do próprio Estado.

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