sexta-feira, janeiro 07, 2011

O preconceito ao filho transexual emperra a carreira de Toninho Cerezo…


Telê Santana sempre apostou na visão de jogo de Toninho Cerezo.
Para um dos maiores treinadores que o futebol brasileiro já teve, o volante faria história fora dos campos.
Teria potencial para trabalhar como um grande técnico.
E foi o que um dos melhores jogadores da fantástica Seleção Brasileira de 1982 buscou fazer.
A transição foi fácil.
Sempre foi um líder por onde passou: Atlético Mineiro, São Paulo, Sampdoria, Roma.
Depois de passar pelo Vitória, em 1999, foi para o Exterior.
Ficou cinco anos no futebol japonês, no Kashiwa Antlers.
Voltou, passou novamente pelo Vitória e Atlético Mineiro.
Depois, de 2006 a 2010, na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes.
Ganhou dois campeonatos japoneses, duas Copas do Japão e um árabe.
Mas o currículo de títulos pouco importou.
De volta ao Brasil, trabalhou só três meses no Sport Recife.
Estava disposto a mergulhar de vez no futebol brasileiro.
Só que enfrentou algo inédito, impensável para o machista país que habita.
Foi exatamente no meio do ano que estourou a campanha da importante grife Givanchi na Europa.
A estrela da campanha era a transexual Lea T.
Léa T. é o nome que adotou Leandro Cerezo.
Filho de Toninho.
Era um segredo de família.
Só que Léa T se tornou uma celebridade na Europa.
Em entrevistas para publicações internacionais, Leandro não poupou o pai e expôs a situação.
Falou à Vanity Fair, foi capa de Vogue...
A campanha do Sport já não era boa.
A revelação que o filho do treinador era um transexual tornou o ambiente insuportável.
A imprensa pernambucana não o perdoou e perguntava impiedosamente sobre Léa T.
Ele se recusou a falar sobre Leandro.
As torcidas de Náutico e Santa Cruz fizeram inúmeras gozações.
A diretoria do Sport não pensou em duas vezes em se livrar do técnico.
E, principalmente, do fantasma do transexual.
Toninho Cerezo se tornou um personagem recluso, fechado.
Foge da imprensa, não se expõe.
Não quer ouvir perguntas sobre o filho.
Seu nome como treinador é vetado nos grandes clubes.
Mesmo nos mais modestos, que vão disputar o Campeonato Paulista, por exemplo, também.
Não interessa saber que ele aceitaria um salário baixo.
Os dirigentes ligam a sua figura à do filho.
E se negam a entregar seus times ao seu comando.
Puro e cruel preconceito.
E que refletiu na vida de Toninho Cerezo.
Ele e Leandro não se falam.
Tudo é muito triste.
Empresários me dão o veredicto: por mais talentoso, não há mercado no Brasil para Toninho Cerezo.
E ele sabe disso.
Tanto que em uma entrevista chegou a declarar ter apenas três filhos.
Mas ele tem quatro.
Não quis contabilizar o transexual.
Era como Léa T. não existisse.
Talvez fosse o que desejasse.
Tudo é triste demais...

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