domingo, janeiro 23, 2011

O paredão negro do BBB e o galã preto

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Postado por Paulistano

O paredão negro do BBB e o galã preto

Eu vou interromper um pouco os textos sobre São Paulo para falar de algo que tem em todos os estados do Brasil: preconceito. E ainda que muita gente se esforce para tentar provar que a nossa cordialidade brasileira nos coloca a quilômetros dos EUA em termos de racismo, penso (e já vi e vivi muito) o contrário (até porque morei um ano e meio nos EUA, mais precisamente em Washington, D.C., onde a comunidade negra é enorme). Já vi gente entregando chave em porta de restaurante a cliente negro achando que ele era do valet parking. Isso é um exemplo bobo e publicável perto do que já vi e vivi.

Esta semana foi pródiga de episódios escandalosos de preconceito racial. Não li, por exemplo, uma linha na imprensa ou vi nada na interent sobre o primeiro paredão do Big Brother Brasil. Antes de mais nada, quero dizer que eu vejo ocasionalmente o BBB, até porque a TV fica ligada a noite toda aqui e na internet só se fala neste programa. Não o julgo ou quem assiste ao programa. Mas este primeiro paredão foi sintomático.

Quando a lógica das primeiras semanas na casa indicavam que os mais fortes deveriam ser levados ao paredão, os primeiros candidatos a sair, escolhidos mais ou menos pelos participantes foi um negro gay, uma negra mulher e um negro transexual. Este último, aliás, foi o primeiro a ser chutado por um público que provavelmente acha que o diferente merece sumir da face da Terra. Nenhum dos três me parecia candidato a sobreviver naquele mar de gente de quinta. Ou a amaeaçar ninguém. Mas estavam lá, no Pelourinho, para a alegria dos sinhozinhos e sinhás que acompanham a trama.

Deu para entender? Os primeiros a serem colocados no paredão do BBB numa casa já majoritariamente branca foram três negros. Penso que a quarta negra sõ não tenha parado no paredão porque só permitiam três ali. Chibata nessa gente que insiste em se misturar.

Hoje, dou de cara com um site onde se percebe a repercussão sobre a idéia de Gilberto Braga de colocar um galá negro, o ator Lázaro Ramos, como o comedor de mulher na trama das nove da Globo. O escritor, professor, dj, músico, jornalista Dodô Azevedo reuniu NO SEU SITE uma série de tuitadas de gente com nome e sobrenome sobre o asco que lhes causa ver um negro desejando e sendo desejado por todas em horário nobre na TV. "O Lázaro Ramos é o Zé Mayer depois do incêndio" foi o comentário mais babaca entre os muito mais pesados e preconceituosos.

Quando eu era pequeno, minha mãe me disse o mseguinte: "Algumas coisas a gente pode até achar e pensar, mas não deve dizer em voz alta. Pergunte a gente que entenda do assunto, reflita e só depois dê sua opinião. Falar sem pensar é dos piores equívocos". Nunca esqueci isso, mas esse pudor de dizer o impensável/impensado é cada vez mais coisa do passado. Para o horror de um país onde o dinheiro parece estar chegando antes, muito antes da educação.

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