sábado, janeiro 08, 2011

Igreja Inclusiva: espaço seguro e saudável de adoração e comunhão

“Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade.” 1Co 5.7-8
As Igrejas da Comunidade Metropolitana nos seus mais de quarenta anos de fundação e ministério junto aos excluídos e marginalizados, notadamente os LGBT, tem trabalhado mundo a fora com o objetivo de construir, onde quer que esteja, um espaço seguro e saudável de adoração e comunhão para todos e todas que ouvirem o doce e inconfundível chamado do Senhor para nela se integrar e militar, pelo Evangelho Inclusivo de Cristo Jesus.
Aqui no Brasil não é diferente da América do Norte ou Europa ou qualquer outro país onde a Igreja da Comunidade Metropolitana se faz presente. Aqui também temos como objetivo construir um espaço seguro e saudável de adoração e comunhão para todos e todas.
Construir uma igreja saudável e segura jamais foi fácil, e isso podemos concluir lendo as cartas do Apóstolo Paulo contidas no Novo Testamento. Paulo teve que lutar muito pela saúde e pela segurança das igrejas do primeiro século, assim como os que vieram depois dele e continuaram a obra que ele iniciou. Sabemos disso lendo os Pais da Igreja que expõem em seus escritos quanta luta fora empreendida para que a igreja de Jesus fosse um lugar seguro e saudável de adoração e comunhão.
O desafio, portanto, não é novo, porém, ainda sim, é um desafio e por isso subimos nos ombros dos gigantes que nos antecederam para no nosso atual contexto construirmos hoje uma igreja segura e saudável, tentando imitá-los nos passos, ajustando suas ações dentro da realidade que nos cerca no século 21.
O contexto em que vivemos é muito difícil como era difícil o contexto de Paulo. Contudo, uma diferença enorme nos separa: por ser obra nova no meio do povo, a Igreja tinha que enfrentar a teologia, o estilo de vida, a filosofia e os modismos daquela época. Hoje, embora os desafios se mostrem quase os mesmos, a teologia, porém, difere, pois lá era a teologia do Império Romano e do paganismo; hoje é a teologia, ou melhor, as teologias e doutrinas das mais variadas igrejas que temos de enfrentar, além dos estilos de vida, filosofias e modismos.
Podemos seguramente dizer que tentamos aqui construir algo novo também, pois uma Igreja Inclusiva é obra nova em nosso país, mesmo faltando apenas 1 ano para completarmos nossa primeira década no Brasil.
Como podemos construir uma igreja inclusiva nos objetivos que nos propomos? Elencarei alguns pontos, estendendo-os em outros textos que os elucidarão. Por enquanto, o objetivo é lançar algumas idéias resumidas:
A) Primeiro devemos re-significar o conceito “igreja”. Re-significar não é propriamente fundar um novo conceito, mas buscar, talvez, o conceito já posto, contudo, pervertido nos nossos dias. Aqui não usamos o conceito de igreja como “cada crente uma igreja”, mas o entendimento de igreja como denominação. As denominações são denominações porque possuem coisas que as diferenciam das demais e isso pode ser ruim, dependendo do modo como elas se relacionam com as outras denominações; mas existe um lado desta moeda que é necessária, uma vez que sendo muitas denominações atendem à diversidade do modo de enxergar e viver a fé cristã no coletivo. A Igreja Inclusiva deve ser uma igreja aberta às mais variadas tendências e modos de viver a fé cristã no coletivo, se deseja ser um espaço seguro e saudável de adoração e comunhão. Todos e todas devem se sentir livres para expressar sua fé e vivê-la intensamente no coletivo da igreja, depois de re-significar o conceito de igreja para curar as possíveis doenças trazidas das igrejas anteriores, inclusive aqueles que vêm de “igrejas inclusivas” que não passam de reproduções das velhas e carcomidas igrejas que já temos por ai, com o diferencial de aceitar pessoas LGBT.
B) “Inclusiva” é um adjetivo que não é sinônimo de “igreja gay” ou “igreja para gays”. No propósito de ser inclusiva está contido o objetivo de abarcar numa harmonia a diversidade humana, não apenas a diversidade das orientações sexuais, mas a diversidade étnica, social, política e econômica. Aceitar a diversidade humana e juntar os mais variados sujeitos numa harmonia requer a quebra dos mais variados tipos de preconceitos: sexual, econômico, político, étnico-racial, de origem, de gênero etc. Harmonizar não é plastificar, tornar tudo igual, mas conviver com a diferença, superando-a pela quebra dos preconceitos, verdadeiros muros que separam pessoas, no entendimento que tais diferenças nos enriquecem ao invés de nos separar. Quebrar preconceitos é tarefa árdua que exige muita dedicação e trabalho da liderança desta igreja. É impossível construir um espaço seguro e saudável de adoração e comunhão se não superarmos os preconceitos pelo conhecimento que liberta. É impossível chamar de “inclusiva” uma obra que re-afirma os mais variados preconceitos ou os negligencia, colocando-os debaixo do tapete ou, pior ainda, a tentativa de plastificar as diferenças, tornando igual o que é diferente, como se isso fosse possível.
C) Não é possível criar uma igreja como espaço seguro e saudável de adoração e comunhão se os pressupostos dogmáticos e exegéticos forem os mesmos das igrejas fundamentalistas. É preciso aqui também uma re-significação da Bíblia e um novo olhar sobre este conjunto de livros. Imitar as igrejas fundamentalistas em todas essas coisas, somente dando uma roupagem “inclusiva” (leia-se LGBT) a elas, não fará das nossas igrejas uma igreja inclusiva de fato, quanto mais um local seguro e saudável de adoração.
D) Estaremos fadados ao insucesso no empreendimento de construirmos uma igreja inclusiva como espaço seguro e saudável de adoração e comunhão se não observarmos a ética. Num mundo de relativismos como o nosso, “certo” e “errado” possuem os mais variados significados. Hoje em dia, o que é certo para um é errado para tantos outros! Sendo assim, é preciso estabelecer uma base comum para, a partir dela, agirmos concretamente na realidade que nos cerca. Estabelecer o que é ético e o que não é ético é imprescindível na construção de um espaço seguro e saudável de adoração, evitando com isso os falsos moralismos, bem como o “pode tudo” como desculpa para os mais variados comportamentos adoecidos e que fazem adoecer, não promovendo o amor, a ética sine qua non de Jesus.
E) É impossível construir um espaço seguro e saudável de adoração e comunhão sem a valorização, a observação, o ensino e a compreensão do conceito de liberdade. A re-significação de liberdade também é imprescindível, uma vez que a perversão da liberdade é algo useiro e vezeiro no mundo atual, se é que um dia foi realmente compreendido. Liberdade sem ética não é liberdade, mas passaporte para as mais variadas injustiças e comportamentos adoecidos. Liberdade sem amor é escravidão do egoísmo e a promoção do egocentrismo. Liberdade sem alteridade é anomia que promove o vale tudo com desrespeito e isso não pode promover, nem nunca promoveu o amor conforme o entendimento cristão de amor.
Como podemos ver, a construção da igreja inclusiva como espaço seguro e saudável de comunhão e adoração, requer de nós uma desconstrução total das carcomidas e velhas opiniões e pretensiosas certezas e isso requer esforço comum e coletivo e muito – muito estudo! Contudo, se cultivarmos apenas o saber, de nada nos adiantará! É preciso concretizar, colocar em prática tudo isso. Uma igreja não pode ser chamada de inclusiva se sua práxis não observa o mandamento do amor conforme Jesus nos ensinou. Aliás, igreja para ser igreja, não pode partir de outro pressuposto senão aquele dado pelos apóstolos, contido no Novo Testamento, a Escritura da Igreja.
Re-significar é o verbo por excelência para a construção de um espaço seguro e saudável de adoração e comunhão. O amor é o alicerce. O respeito o cimento. A diversidade o tijolo. Tudo isso sob o teto da Escritura que é a bússola da comunidade de fé cristã, sua regra de fé e prática. A beleza dessa construção está garantida, bem como sua solidez, se tudo isso for firmado na Rocha, Jesus de Nazaré, que nos ensinou a mais correta das condutas: amar.
Rev. Márcio Retamero
Pastor Efetivo da Comunidade Betel/ ICM Rio de Janeiro

Fonte: www.betelrj.com

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