(Folha de Sp, 27/08/1992)
Nos últimos 10 anos, 1.200 homossexuais foram assassinados no Brasil. No Paraná, foram 12 assassinatos desde 1983, dos quais 3 aconteceram só este ano. Os números foram divulgados ontem, em Curitiba, pelo antropólogo e professor Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia. Mott veio ao Paraná participar do 1° Congresso de Educação para a Integração da América Latina, realizado em Marechal Cândido Rondon na semana passada, onde falou sobre “Os 500 anos de Homossexualismo na América”. Para o antropólogo, o crescente número de assassinatos contra os homossexuais está diretamente ligado ao machismo e ao preconceito. “Da mesma forma que a mulher, o homossexual também é vítima da sociedade preconceituosa e machista”, disse Mott. O presidente do Grupo Gay da Bahia denunciou que todos os crimes contra os homossexuais têm “requintes de crueldade” e só 10% dos assassinos são punidos. “É preciso que a sociedade tenha consciência de que ser homossexual não é crime, Não há nenhuma lei que proíba o amor entre pessoas do mesmo sexo”, afirma o antropólogo.
Apesar da violência, o movimento homossexual conquistou alguns avanços nos últimos anos, conforme conta o líder gay. Segundo ele, as constituições de dois estados brasileiros – Mato Grosso do Sul e Sergipe – já têm artigos que proíbem a discriminação contra os homossexuais. Este mesmo artigo está presente também nas leis orgânicas de 56 municípios brasileiros, entre eles os três maiores: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. No Paraná, apenas dois municípios proíbem o preconceito contra homossexuais: Mirasselva e Cruzeiro do Oeste. “Queremos incluir este artigo em todas as leis municipais e nas constituições estaduais” – informou Mott. Ele disse que os homossexuais querem também esta garantia na revisão constitucional. No Paraná, os homossexuais estão reunidos no grupo Dignidade, fundado em março deste ano (1992) . São 25 associados que se reúnem quinzenalmente para discutir AIDS, discriminação e violência. O presidente do grupo, Toni Reis, conta que a preocupação maior do movimento hoje são os casos de assassinato contra os homossexuais. “O grupo Dignidade vai denunciar todos os casos e exigir punição”, adianta Reis. O grupo Dignidade é uma das 18 entidades de homossexuais existentes em todo o Brasil. A primeira delas – o grupo Somos, de São Paulo – foi fundada em 1976. O Grupo Gay da Bahia, fundado por Luiz Mott, existe desde 1980. (Boletim do GGB, n.25, 1992)
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