quarta-feira, novembro 24, 2010

E se Cabral tentasse agora prender bandidos para ver o que acontece?

Leiam primeiro o post abaixo:

Eu gosto que lembrem o que escreve e gosto de lembrar também. É uma questão de honestidade com os leitores. Afinal, construímos juntos este troço aqui. Pois é. A bandidagem anda inquieta no Rio. Sérgio Cabral, o maior marqueteiro do país depois de Lula, atribui a explosão de violência ao sucesso de sua política de segurança. É um raciocínio interessante. No dia em que ele for 100% eficaz, então o Rio vira uma praça de guerra. Peço licença para relembrar o que escrevi no dia 15 de outubro. Volto depois.
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Aplaudam quantos quiserem, e eu continuarei a chamar de mistificação. A polícia do Rio de Janeiro ocupou ontem o chamado Morro dos Macacos, no Rio, onde um helicóptero foi derrubado por traficantes no ano passado. Marketing da polícia: instalou-se a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) sem um único tiro! Uau! A bandidagem também fica grata e pacificada!

O que terá acontecido? Assinale a alternativa correta:
a - (  ) os bandidos se converteram em trabalhadores honestos;
b - (  )  foram aterrorizar a população em outro morro;
c - (  )  fizeram um acordo de cavalheiros com a polícia.

Essa política de segurança do governador Sérgio Cabral (PMDB), que Dilma Rousseff considera modelo e que seduz tanta gente na imprensa, especialmente a carioca, é uma piada! Ontem, José Mariano Beltrame, secretário de Segurança, concedeu uma entrevista, que vi no Jornal da Globo. Segundo o valente, o objetivo principal dessa política é recuperar território, não prender malfeitores. Ah, bom! Agora está explicado!

Digamos que tenha acontecido a alternativa “b”, não a “c” (embora eu não esteja bem certo disso): há de se supor que Cabral pretenda “libertar” todas as áreas da cidade, acabando com o domínio do narcotráfico por ali, certo?. Certo! Mas sem prender ninguém! Assim, entendemos que os criminosos não estarão nos morros do Rio, mas também não estarão nas cadeias. Logo, se o governador for 100% eficiente em sua obra, os outros estados que se cuidem porque ele estará exportando seus maus rapazes para outras unidades da federação: “O Rio não dá! Vamos para outros estados”.

Cabral é esperto: ele “pacifica”, ganha manchetes positivas e não tem o trabalho de manter presos em cadeias, o que é sempre difícil de administrar e caro. Alguns números explicam certas coisas.

Em dezembro de 2009, a população carcerária no país era de 474.626 pessoas. Do total, nada menos de 34.6% estavam em São Paulo, que tem apenas 22% da população. Será que o estado tem mais pilantras do que os outros ou prende demais? Não! Tem uma polícia e uma segurança mais eficientes. O Rio vinha em quinto lugar, com menos presos do que Minas, Paraná e Rio Grande do Sul. São 399,79 os presos por 100 mil habitantes em São Paulo, contra apenas 166,56 no Rio.

Agora vejam que interessante: no Mapa da Violência, com dados de 2007, São Paulo estava em 25º lugar (antepenúltimo) nos estados com o maior número de homicídios (15 por 100 mil - já baixou para quase 10); o Rio estava em quarto: 45 por 100 mil; a média brasileira é 26 por 100 mil. Não é que mais bandidos na cadeia significa menos cadáveres nas ruas? Incrível!!!

Fico feliz pelas áreas pacificadas - na hipótese de não ter havido apenas uma pacificação com o crime, não sem ele. Mas chegou a hora de Cabral começar a prender os marginais. Ou, então, que ele nos apresente essas almas pias, convertidas ao bom-mocismo. Se não o fizer, no dia em que ele pacificar todo o Rio de Janeiro, terá passado seus malfeitores para seus colegas governadores.

Tudo bem… Eu sei que vêm Olimpíada, Copa do Mundo, o diabo a quatro, e esse papo de polícia pacificadora faz parte desse grande marketing do nosso bundalelê cordial. Mas respeitem minimamente a inteligência de quem lida com a lógica e sabe fazer conta. Quero saber onde estão os traficantes das áreas que a polícia de Cabral ocupou. Sem eles, aconteceu, na verdade, uma de duas coisas: ou acordo ou mera transferência de base de operação.

Se o governador ou o secretário Beltrame tiverem alternativas novas, cartas para o blog.

Voltei

Pois é… Algo ficou fora do arranjo de Cabral. Já se sabe, a esta altura, que o tráfico segue fazendo o seu “trabalho” nos morros onde estão instaladas as UPPs. O que mudou? A bandidagem não desfila mais com revólveres e fuzis nas mãos, e o narcotráfico não promove mais seus megabailes funk. É para mostrar à comunidade que “algo” mudou. “Pacificado”, o tráfico se tornou mais discreto. Vende menos, mas também emprega menos mão-de-obra, já que não precisa mais temer as incertas da polícia. Afinal, ela já está ali. Consta que a lucratividade aumentou.  Tudo se tornou muito urbano, muito civil, muito, assim, “cidadão”!!! O tráfico, finalmente, adquire consciência social, entenderam? O tráfico quer ser respeitado! Ainda fornecerá seus personagens às colunas sociais, como o bicho nos anos 80. Brizola “domou”, à sua maneira, os bicheiros; Cabral, os narcotraficantes.

Pois bem… Houve termo que ficou fora da equação. Ninguém se espantou quando Cabral avançava levando a sua “paz” sem prender ninguém, certo? Só o Tio Rei aqui. Até pedi em outro texto que Cabral apresentasse ao público seus “convertidos” à legalidade. Eles não apareceram. Quem é essa gente que está aterrorizando a população do Rio? Será mesmo coisa do Comando Vermelho, que estaria sendo afrontado pelas UPPs? Huuummm… E se forem pessoas “desempregadas” pelo crime organizado, os pés de chinelo do tráfico, de que os chefões não precisam mais?

Bandidos desocupados e soltos logo arrumam o que fazer, não é mesmo? Eu tendo a achar que seria conveniente que Cabral começasse a prender os bandidos do Rio. Quem sabe a situação melhore…
Por Reinaldo Azevedo

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