segunda-feira, setembro 20, 2010

Foi nesta cidade (o Rio de Janeiro) que eu - uma bibete pobre, feia, tímida e mal ajambrada - cresci em todos os sentidos.


http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/posts/2010/09/20/aguinaldo-silva-rio-foi-destruido-pelas-construcoes-caoticas-326049.asp

Aguinaldo Silva: 'O Rio foi destruído pelas construções caóticas'
Depois de uma temporada de cinco meses em Portugal, onde esteve acompanhando o lançamento de sua novela "Laços de sangue" na televisão local, Aguinaldo Silva chegou ao Rio este fim de semana para receber, nesta segunda-feira, o título de cidadão carioca. Pernambucano, Aguinaldo está no Rio há 44 anos, e o título é mais do que merecido. Nesta entrevistinha, ele fala de sua relação com a cidade.

- Quando você chegou ao Rio, de vez, foi morar aonde? Ainda mantém alguma relação com este bairro?

- Quando cheguei ao Rio, em junho de 1964, na verdade ia para São Paulo, e aqui não tinha onde ficar. Telefonei para Fernando Mello, que depois escreveria "Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá", e fiquei hospedado com ele num apartamento que lhe fora emprestado na Rua Itacuruçá, na Tijuca. Foi minha primeira morada aqui, e lá perdi a conta dos coiós que levei dos bad boys da época, os quais não suportavam a ideia de ver sua rua tão tradicional invadida por duas bibas pintosas. De dia, conseguíamos sair de ônibus, mas à noite tínhamos que chegar de táxi, ou bater o recorde dos cem metros rasos! É evidente que, em tais circunstâncias, quando saí da Tijuca fiz igual a dona Carlota Joaquina quando deixou o Rio: sacudi as sandálias pra não levar dali nem a poeira!

- Nessa época, o que mais te atraiu na cidade e o que você mais estranhou ou rejeitou?

- O que mais me atraiu foi o bar e restaurante Gôndola, em Copacabana. Ver o Paulo Francis num domingo, a ler o "Estadão" fingindo que era o "New York Times", era uma experiência inesquecível! O que mais estranhei foi a longa viagem no ônibus 434 da Tijuca até lá. Tudo me parecia tão longe... e em todos os sentidos. Rejeitar, eu não rejeitei absolutamente nada. Agarrei tudo que me veio pela frente.

- Hoje, o que mais te atrai no Rio e o que mais você rejeita?

- Hoje, só duas coisas me atraem no Rio: o Centro Cultural Banco do Brasil e seu entorno (não mais de 200 metros de circunferência) e um trecho de Ipanema que vai da Praça Nossa Senhora da Paz à Rua Garcia D´Ávila. O que mais rejeito é o caos urbano em que se transformou a cidade. A paisagem continua linda, mas não pode ser confundida com o tecido urbano, que é horroroso, foi totalmente destruído pelas construções caóticas e pela favelas inerradicáveis.

- Lisboa está substituindo o Rio no seu coração?
- Dos meus 66 anos, vivi 44 anos no Rio de Janeiro. Foi nesta cidade que eu - uma bibete pobre, feia, tímida e mal ajambrada - cresci em todos os sentidos. Ela para mim é insubstituível. O problema é que a cidade foi totalmente adulterada nestes seus 400 anos, enquanto Lisboa tem 1.100 e continua perfeita. Eu amo as duas, o que me faz estar na moda desta estação, que é a bigamia.

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