quinta-feira, agosto 12, 2010

CINEMA MOSTRA AIDS - começa hoje!


Começa hoje a 6º edição do CINEMA MOSTRA AIDS, promovido pelo Grupo Pela Vidda/SP.
Informações completas pelo site www.cinemamostraaids.org.br
Na sexta-feira, dia 13/08 as 19 horas, no Cine Olido haverá a exibição do filme translatina que retrata a realidade de travestis e transexuais em toda a AL. Após haverá um debate sobre essa realidade, com a minha presença, Taís Souza - Assistente Social do CRD e pessoa trans e uma usuária do GPV , uma trans PVHA.
Abaixo segue informações sobre a mostra e programação disponivel no link abaixo.

O GRUPO PELA VIDDA/SP comemora, em 2010, sua maioridade civil. São 21 anos de dedicada trajetória na luta contra a aids, um incansável desafio que, espera-se, um dia se torne dispensável e possa cessar. Até lá, no entanto, se faz necessário apelar a todos os recursos disponíveis para refletir, esclarecer e alertar sobre a epidemia que vitima três milhões de pessoas por ano, em quase três décadas de existência. Um desses instrumentos utilizados pela ONG é justamente o CINEMA MOSTRA AIDS, iniciativa que chega a sua sexta edição com algumas novidades no que toca a abordagem, mas infelizmente não aos dados e situações recorrentes da triste realidade exibida pelos filmes. Dos 25 títulos reunidos este ano, entre longas, médias¬ e curtas-metragens, denota-se o grande desafio em relação à consciência e à redução da disseminação do vírus HIV. De qualquer forma, são produções que procuram chamar novamente à ordem do dia o impacto da aids na sociedade e na vida das pessoas.

É compreensível nesse formato de cinema que se pretende engajado os documentários dominarem na reflexão do tema. São nada menos que quinze na programação. Os demais títulos com freqüência se valem da linguagem documental como ponto de partida e realizam um híbrido que se convencionou chamar de “docudrama”, ou seja, representam uma história verídica com atores e encenação ficcional. E há, claro, as ficções propriamente ditas. Essas historicamente são produções menos comuns, talvez pelo fato de ainda hoje o assunto aids não se sentir confortável entre outros de maior apelo ao grande público. Nunca é demais lembrar o caminho titubeante da doença pelas telas de Hollywood. A indústria por excelência do cinema mundial começou tropeçando, reticente, na acolhida dos primeiros soropositivos e apenas em 1993 avançou sobre os personagens com Filadélfia, oito anos depois da morte de Rock Hudson, estrela emblemática da tragédia que se abateria sobre outros nomes famosos. Depois disso, salvo raras exceções, o cinema comercial americano se calou, como assim fosse com a doença. Um respiro nessa situação costuma vir das produções para televisão, de olhares alternativos como o “docudrama” Pedro, produção da MTV presente na mostra.

Assim, coube a certo cinema de veio independente, ainda dentro dos Estados Unidos, e à produção européia, bem mais arejada, cutucar o estigma. Tanto que depois de enfocar o início da epidemia, suas conseqüências definitivas e as esperanças iniciais¬ de tratamento em inúmeros títulos, o cinema europeu pode agora fazer um balanço de décadas da aids, intenção tanto da ficção francesa Clara e Eu como do alentado documentário italiano O Sexo Confuso – Contos de Mundos na Era Aids, realizado em 2010. De modo direto ou indireto, trata-se aqui da possibilidade de convivência com o HIV em função dos medicamentos disponíveis e como a opção se reflete nas relações afetivas, por exemplo.

Há outra variação interessante a ser levada em conta no movimento cinematográfico europeu. Em produções como Ruas da Amargura, de Portugal, e Escritórios de Deus, da França, não é necessário mais explicitar a doença para saber que ela ronda o universo de jovens na descoberta do sexo e mulheres maduras que, sem acesso à prevenção, engravidaram de parceiros ocasionais. Ou ainda, num universo de marginalização, o caso de usuários de drogas, prostitutas e travestis. O mal agora integra um mesmo “pacote” de perigos sexualmente transmissíveis, para os quais a camisinha ainda é melhor arma mas nem sempre usada. Essa mesma preocupação pode ser estendida para a América Latina, na representação pontual¬ do documentário peruano Translatina. O contra¬ponto radical desse estado de consciência, porém, ainda são sociedades menos esclarecidas, como atesta outra investigação documental, No Limite – Seis Capítulos sobre a Aids na Ucrânia, país com meio milhão de infectados e subindo na escala devido aos tóxicos, à miséria e às instituições corruptas.

O Brasil não pode se gabar frente a um cinema tão atrelado à questão como o europeu. Mas justiça seja feita que a produção nacional, sempre de caráter independente, não perdeu de todo o bonde dessa história. A exemplo do ano passado, quando se lembrava o medo junto às comunidades indígenas em O Caso Tiryó, entre outras preocupações, as iniciativas locais também serão notórias no calendário da mostra. Isso especialmente pela inclusão de um precursor no trato do tema. Estou com Aids, realizado em 1985 por um ícone da pornochan¬chada, o ator e diretor David Cardoso, já demonstra no título a que veio.

Feito na urgência de anunciar a um público específico a epidemia que então se alastrava, vitimando inclusive integrantes da chamada Boca do Lixo, o filme lança mão de depoimentos, reportagens e encenações ficcionais sobre as condições consideradas recorrentes para a propagação do vírus. Pode e deve ser visto também à luz de uma conjuntura ainda de desconfiança e desconhecimento da doença. Uma comparação instigante, sem dúvida, com propostas atuais, como em um curta documental sobre um jovem gay e seu conflito com a identidade sexual e a descoberta do vírus (Under the Skin – Sob a Pele), outro fincado na memória e poesia (Bailão), além de um raro olhar só sobre as mulheres (Positivas). De quebra, o país apresenta criatividade no jeito de abordar a eficiência do preservativo no inspirado Auto da Camisinha.

Note-se que, mesmo depois de maciças campanhas de esclarecimento, esse instrumento de prevenção ainda é tabu em muitos territórios. A África continua campeã na disseminação da doença em grande parte pela desinformação ou recusa dos homens em adotar a prevenção, retrato que é evidente na porção do continente que fala português. Atrações desta edição pela ínfima conexão que a cultura tem com o Brasil, dois dos três filmes de Moçambique assinados pelo diretor Sol de Carvalho contemplam a juventude, alvo também da ficção Cartão Amarelo, do Zimbábue, o que confere uma dimensão preocupante quanto às novas gerações. Mas não só naqueles dois países. Também Quênia, Ruanda, Tanzânia e Uganda estão representados, dando conta das circunstâncias especialmente penosas para as mulheres, ao mesmo tempo atingidas pelo HIV e pela violência de seus parceiros.

Nessa encruzilhada temos uma inesperada aproximação das nações abaixo da linha da pobreza com o dito Primeiro Mundo. Um curta (Um Genocídio Silencioso – Um Breve Olhar no HIV/Aids) e um média-metragem (Fora de Controle – Aids na América Negra) de origem americana soam o alarme para a enorme incidência da doença entre a população negra dos Estados Unidos, prova de que uma enfermidade dessa gravidade não respeita fronteiras nem status econômico ou social. Mas o equilíbrio da balança, embora ameace pender para um saldo temerário, não deixa de registrar ações louváveis como a dos jovens que cruzam os estados americanos para esclarecer os ainda mais jovens em Road to Hope. É esse conjunto de conflitos e atitudes de esperança que o Grupo Pela Vidda/SP vem dividir novamente com os espectadores.

Programação:

http://www.cinemamostraaids.org.br/default.asp?site_Acao=MostraPagina&paginaId=10

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