Segue
 abaixo um breve e triste relato dos principais pontos abordados na 11ª 
reunião ordinária do Conselho Nacional LGBT, realizada nos dias 26 e 27 
de setembro de 2012, em Brasília. Quem ler terá um panorama atual das 
trevas no tocante às políticas públicas para a população LGBT no Brasil 
hoje.
- Plano Nacional LGBT. O 
cronograma de elaboração do novo Plano foi novamente modificado. Ou 
melhor, segundo Salete Camba, Secretária Nacional de Promoção e Defesa 
dos Direitos da Presidência da República, não existem novas datas para a
 finalização do novo Plano.  Na reunião anterior foi informado que um 
esboço inicial do Plano seria distribuído aos conselheiros nesta 11ª 
reunião. Tanto Salete quanto outros funcionários do governo federal 
deixaram explícito, durante a reunião, que foi transmitida on-line, que 
nada sobre políticas LGBT será divulgado ao público antes das eleições 
de 2012.
Após a fala de Salete, 
alguns/mas conselheiros/as se manifestaram para criticar o governo. 
Janaína Oliveira, da Rede Afro-LGBT, disse que a paciência do movimento 
social LGBT para com o governo “chegou ao limite”. Eu apoiei o 
pronunciamento de Janaína e disse: “Mais uma vez saio daqui deprimido. 
Hoje tivemos um desenho do quadro da dor nas políticas LGBT do Brasil. O
 governo se curvou ao fundamentalismo religioso. Ajoelhou e rezou”. 
Celso Tondin, do Conselho Federal de Psicologia, perguntou: “para que 
serve a existência de instâncias que estão impedidas de trabalhar, como o
 setor LGBT da SDH e o próprio Conselho Nacional?”. Julian Rodrigues, da
 ABGLT, disse estar desolado e também destacou que o movimento social 
chegou ao limite para com o governo federal. Keila Simpson também se 
pronunciou e disse que pela primeira vez pensou em renunciar ao cargo de
 presidenta do Conselho.
Nos 
bastidores, cresce a conversa de que o movimento social LGBT deverá 
romper com o governo Dilma, mas não creio que isso vá ocorrer antes das 
eleições. As organizações da sociedade civil do Conselho estão 
elaborando uma carta para denunciar a situação para a sociedade 
brasileira.
- A pedido da ABGLT e 
demais organizações da sociedade civil, foram incluídos na pauta da 
reunião os informes sobre o que cada Ministério está fazendo para a 
população LGBT. Este pedido já foi feito em várias reuniões anteriores 
mas, apesar disso, alguns conselheiros do governo reclamaram que não 
estavam preparados para apresentar os dados na reunião.
Pela
 Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Biel Rocha informou que 15 
estados já assinaram o termo de cooperação da SDH, Ministério da Justiça
 e Secretarias Estaduais de Segurança Pública para o desenvolvimento de 
ações de combate à violência contra a população LGBT; informou que está 
em fase de elaboração o termo de cooperação entre a SDH e os conselhos 
regionais de psicologia para a criação de grupos que auxiliem no combate
 à homofobia nos Estados (essa ideia foi duramente criticada pelo 
movimento social em outras reuniões, ver relatos); informou que a SDH 
está firmando convênios com organizações do Piauí, Mato Grosso do Sul e 
Santa Catarina para a realização de ações nestes locais (segundo Biel, 
estes convênios envolvem no máximo R$ 600 mil).
Biel
 foi questionado mas não soube informar sobre a campanha institucional 
que o governo federal ficou de lançar para combater a homofobia. Eu 
participei de uma comissão que pensou diretrizes para esta campanha, 
conforme informei em relatos anteriores.
A
 representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres da 
Presidência da República, Maria de Lourdes Alves Rodrigues, elencou as 
seguintes ações: nova edição do prêmio Igualdade de gênero, que ainda 
está com inscrições abertas, ações de divulgação da Lei Maria da Penha, 
criação da coordenadoria geral da diversidade, cargo recém ocupado por 
ela.
Fábio Meirelles, do Ministério 
da Educação, disse que uma nova diretora de educação, políticas de 
direitos humanos e cidadania foi nomeada no MEC (Clélia Brandão). 
Informou que R$ 25 milhões foram liberados para a realização de cursos 
de educação continuada de professores, com módulos que incluem a 
diversidade sexual. Disse que o Programa Nacional Biblioteca na Escola 
está distribuindo livros sobre direitos humanos, sexualidade e gênero 
pelo país e informou que o MEC apoiará projetos de extensão 
universitária dentro da linha LGBT. Meirelles foi questionado e informou
 que não existe nenhuma nova informação sobre o kit anti-homofobia e que
 existe um edital aberto para novos materiais didáticos na escola. 
Informou ainda que muitas universidades, a partir de uma portaria do 
MEC, estão instituindo o nome social de pessoas trans. Além disso, o 
conselheiro respondeu perguntas sobre a notícia de que o MEC irá firmar 
um convênio com o Fórum de Entidades de Psicologia para o combate à 
violência nas escolas. Segundo ele, o convênio é para a elaboração de 
mais pesquisas sobre o tema. Celso Tondin, do Conselho Federal de 
Psicologia, disse que a intenção desse convênio não é substituir o 
programa Escola sem homofobia. Trata-se de uma ação do governo que não 
passou pelo Conselho Nacional.
Esses 
foram os informes dos membros do governo federal ao pedido da sociedade 
civil. O Ministério da Saúde não esteve presente na reunião.
-
 O deputado federal Jean Wyllys participou do início da reunião do 
Conselho e deu informes sobre o que a Frente Parlamentar Mista pela 
Cidadania LGBT está fazendo no Congresso Nacional:
1.
 Articulação para que a relatoria do projeto PLC 122 (que criminaliza a 
homofobia) seja repassada para a senadora Lídice da Mata ou para a 
senadora Ana Rita (Conselho Nacional aprovou nota pública solicitando 
que a relatoria seja enviada para a senadora Lídice);
2.
 Lei de identidade de gênero, nos moldes da aprovada na Argentina, foi 
apresentada pela deputada federal Érica Kokay (PT-DF). Jean informou que
 tentará ser o relator da referida proposta e que a Frente está aberta 
para discutir o projeto. Coloquei a ABEH à disposição para colaborar;
3. PEC Casamento Civil: Jean informou que faltam poucas assinaturas para protocolar a PEC na Câmara dos Deputados;
Jean
 disse que o ministro da Educação teria informado ao seu gabinete que só
 daria novas informações sobre o programa Escola sem homofobia após as 
eleições. Jean se referia ao seu pedido de informações ao ministério 
sobre o material didático anti-homofobia. O deputado disse que está 
acompanhando as discussões sobre o novo Código Penal e que em breve a 
Frente começará a discutir o tema do próximo seminário LGBT, a ser 
realizado em maio de 2013.
- O 
assessor parlamentar de Marta Suplicy, Jorge Marcos Freitas, também 
esteve no Conselho para dar informes sobre o andamento do PLC 122. 
Informou que Marta está fazendo de tudo para que a relatoria do projeto 
seja enviada para a senadora Lídice da Mata (PSB-BA).
-
 Maria Rosa Sabbatelli, da Delegação da União Europeia no Brasil, esteve
 no Conselho para falar sobre a realização de um seminário em Bruxelas, 
dias 13 e 14 de novembro de 2012, com representantes da sociedade civil 
do Brasil e da União Europeia. O seminário terá um grupo de trabalho 
sobre direitos humanos LGBT. Oito conselheiros da sociedade civil foram 
escolhidos para integrar a comitiva brasileira, inclusive eu como 
representante da ABEH.
- O Conselho 
também indicou o meu nome para representá-lo no Comitê técnico de 
cultura LGBT a ser criado no Ministério de Cultura para discutir 
políticas culturais para o respeito à diversidade sexual e de gênero no 
Minc.
- Conselho aprovou nota de 
repúdio aos ataques sofridos por pesquisadores/as brasileiros/as, que 
tiveram suas falas manipuladas por fundamentalistas religiosos e que 
associaram a pedofilia com a homossexualidade. Em breve será divulgado o
 conteúdo completo da nota.
- Câmara 
técnica de legislação e normas finalizou as discussões internas sobre o 
processo de escolha da nova composição do Conselho. No entanto, as 
normas não foram apresentadas no pleno e serão enviadas aos e-mails dos 
conselheiros para que todos enviem as suas sugestões. Pesquisadores/as 
deverão ter duas vagas na nova composição do Conselho. Fiquem alertas 
para os próximos informes sobre como submeter candidaturas para o novo 
Conselho. O mandato da atual composição encerra em março de 2013.
- Dos informes, destaco:
1.
 Estão abertas até dia 30 de setembro as indicações para o Prêmio 
Direitos Humanos. Qualquer pessoa pode fazer indicações através do 
http://portal.sdh.gov.br/
2. O 19º Entlaids ocorre de 4 a 8 de novembro, em Brasília.
3.
 Parecer que elaborei, a pedido do Conselho, para o livro A estratégia, 
foi encaminhado ao Ministério Público Federal. Segundo a SDH, o 
Ministério decidiu encaminhar a questão para a Procuradoria Regional dos
 Direitos do Cidadão do Rio de Janeiro, cidade na qual o livro foi 
editado no Brasil;
4. Toni Reis, da 
ABGLT, pediu afastamento do Conselho Nacional LGBT. No ofício, disse que
 foi nomeado para trabalhar no "projeto de Apoio aos Diálogos Setoriais 
União Europeia – Brasil, para a realização de levantamento de 
experiências exitosas, europeias e brasileiras, de acolhimento da 
população LGBT vítima de violência e de enfrentamento da homofobia." O 
suplente Julian Rodrigues assumiu a vaga de Toni Reis no Conselho.
Próxima reunião ordinária do Conselho está marcada para ocorrer dias 27 e 28 de novembro de 2012.
Leandro Colling
Presidente da ABEH (mandato 2011/2012)
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