sábado, setembro 29, 2012

Relato da 11ª ordinária do Conselho Nacional LGBT, ou de como o governo federal cedeu ao fundamentalismo religioso no Brasil

Segue abaixo um breve e triste relato dos principais pontos abordados na 11ª reunião ordinária do Conselho Nacional LGBT, realizada nos dias 26 e 27 de setembro de 2012, em Brasília. Quem ler terá um panorama atual das trevas no tocante às políticas públicas para a população LGBT no Brasil hoje.
- Plano Nacional LGBT. O cronograma de elaboração do novo Plano foi novamente modificado. Ou melhor, segundo Salete Camba, Secretária Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Presidência da República, não existem novas datas para a finalização do novo Plano.  Na reunião anterior foi informado que um esboço inicial do Plano seria distribuído aos conselheiros nesta 11ª reunião. Tanto Salete quanto outros funcionários do governo federal deixaram explícito, durante a reunião, que foi transmitida on-line, que nada sobre políticas LGBT será divulgado ao público antes das eleições de 2012.
Após a fala de Salete, alguns/mas conselheiros/as se manifestaram para criticar o governo. Janaína Oliveira, da Rede Afro-LGBT, disse que a paciência do movimento social LGBT para com o governo “chegou ao limite”. Eu apoiei o pronunciamento de Janaína e disse: “Mais uma vez saio daqui deprimido. Hoje tivemos um desenho do quadro da dor nas políticas LGBT do Brasil. O governo se curvou ao fundamentalismo religioso. Ajoelhou e rezou”. Celso Tondin, do Conselho Federal de Psicologia, perguntou: “para que serve a existência de instâncias que estão impedidas de trabalhar, como o setor LGBT da SDH e o próprio Conselho Nacional?”. Julian Rodrigues, da ABGLT, disse estar desolado e também destacou que o movimento social chegou ao limite para com o governo federal. Keila Simpson também se pronunciou e disse que pela primeira vez pensou em renunciar ao cargo de presidenta do Conselho.
Nos bastidores, cresce a conversa de que o movimento social LGBT deverá romper com o governo Dilma, mas não creio que isso vá ocorrer antes das eleições. As organizações da sociedade civil do Conselho estão elaborando uma carta para denunciar a situação para a sociedade brasileira.
- A pedido da ABGLT e demais organizações da sociedade civil, foram incluídos na pauta da reunião os informes sobre o que cada Ministério está fazendo para a população LGBT. Este pedido já foi feito em várias reuniões anteriores mas, apesar disso, alguns conselheiros do governo reclamaram que não estavam preparados para apresentar os dados na reunião.
Pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Biel Rocha informou que 15 estados já assinaram o termo de cooperação da SDH, Ministério da Justiça e Secretarias Estaduais de Segurança Pública para o desenvolvimento de ações de combate à violência contra a população LGBT; informou que está em fase de elaboração o termo de cooperação entre a SDH e os conselhos regionais de psicologia para a criação de grupos que auxiliem no combate à homofobia nos Estados (essa ideia foi duramente criticada pelo movimento social em outras reuniões, ver relatos); informou que a SDH está firmando convênios com organizações do Piauí, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina para a realização de ações nestes locais (segundo Biel, estes convênios envolvem no máximo R$ 600 mil).
Biel foi questionado mas não soube informar sobre a campanha institucional que o governo federal ficou de lançar para combater a homofobia. Eu participei de uma comissão que pensou diretrizes para esta campanha, conforme informei em relatos anteriores.
A representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Maria de Lourdes Alves Rodrigues, elencou as seguintes ações: nova edição do prêmio Igualdade de gênero, que ainda está com inscrições abertas, ações de divulgação da Lei Maria da Penha, criação da coordenadoria geral da diversidade, cargo recém ocupado por ela.
Fábio Meirelles, do Ministério da Educação, disse que uma nova diretora de educação, políticas de direitos humanos e cidadania foi nomeada no MEC (Clélia Brandão). Informou que R$ 25 milhões foram liberados para a realização de cursos de educação continuada de professores, com módulos que incluem a diversidade sexual. Disse que o Programa Nacional Biblioteca na Escola está distribuindo livros sobre direitos humanos, sexualidade e gênero pelo país e informou que o MEC apoiará projetos de extensão universitária dentro da linha LGBT. Meirelles foi questionado e informou que não existe nenhuma nova informação sobre o kit anti-homofobia e que existe um edital aberto para novos materiais didáticos na escola. Informou ainda que muitas universidades, a partir de uma portaria do MEC, estão instituindo o nome social de pessoas trans. Além disso, o conselheiro respondeu perguntas sobre a notícia de que o MEC irá firmar um convênio com o Fórum de Entidades de Psicologia para o combate à violência nas escolas. Segundo ele, o convênio é para a elaboração de mais pesquisas sobre o tema. Celso Tondin, do Conselho Federal de Psicologia, disse que a intenção desse convênio não é substituir o programa Escola sem homofobia. Trata-se de uma ação do governo que não passou pelo Conselho Nacional.
Esses foram os informes dos membros do governo federal ao pedido da sociedade civil. O Ministério da Saúde não esteve presente na reunião.
- O deputado federal Jean Wyllys participou do início da reunião do Conselho e deu informes sobre o que a Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT está fazendo no Congresso Nacional:
1. Articulação para que a relatoria do projeto PLC 122 (que criminaliza a homofobia) seja repassada para a senadora Lídice da Mata ou para a senadora Ana Rita (Conselho Nacional aprovou nota pública solicitando que a relatoria seja enviada para a senadora Lídice);
2. Lei de identidade de gênero, nos moldes da aprovada na Argentina, foi apresentada pela deputada federal Érica Kokay (PT-DF). Jean informou que tentará ser o relator da referida proposta e que a Frente está aberta para discutir o projeto. Coloquei a ABEH à disposição para colaborar;
3. PEC Casamento Civil: Jean informou que faltam poucas assinaturas para protocolar a PEC na Câmara dos Deputados;
Jean disse que o ministro da Educação teria informado ao seu gabinete que só daria novas informações sobre o programa Escola sem homofobia após as eleições. Jean se referia ao seu pedido de informações ao ministério sobre o material didático anti-homofobia. O deputado disse que está acompanhando as discussões sobre o novo Código Penal e que em breve a Frente começará a discutir o tema do próximo seminário LGBT, a ser realizado em maio de 2013.
- O assessor parlamentar de Marta Suplicy, Jorge Marcos Freitas, também esteve no Conselho para dar informes sobre o andamento do PLC 122. Informou que Marta está fazendo de tudo para que a relatoria do projeto seja enviada para a senadora Lídice da Mata (PSB-BA).
- Maria Rosa Sabbatelli, da Delegação da União Europeia no Brasil, esteve no Conselho para falar sobre a realização de um seminário em Bruxelas, dias 13 e 14 de novembro de 2012, com representantes da sociedade civil do Brasil e da União Europeia. O seminário terá um grupo de trabalho sobre direitos humanos LGBT. Oito conselheiros da sociedade civil foram escolhidos para integrar a comitiva brasileira, inclusive eu como representante da ABEH.
- O Conselho também indicou o meu nome para representá-lo no Comitê técnico de cultura LGBT a ser criado no Ministério de Cultura para discutir políticas culturais para o respeito à diversidade sexual e de gênero no Minc.
- Conselho aprovou nota de repúdio aos ataques sofridos por pesquisadores/as brasileiros/as, que tiveram suas falas manipuladas por fundamentalistas religiosos e que associaram a pedofilia com a homossexualidade. Em breve será divulgado o conteúdo completo da nota.
- Câmara técnica de legislação e normas finalizou as discussões internas sobre o processo de escolha da nova composição do Conselho. No entanto, as normas não foram apresentadas no pleno e serão enviadas aos e-mails dos conselheiros para que todos enviem as suas sugestões. Pesquisadores/as deverão ter duas vagas na nova composição do Conselho. Fiquem alertas para os próximos informes sobre como submeter candidaturas para o novo Conselho. O mandato da atual composição encerra em março de 2013.
- Dos informes, destaco:
1. Estão abertas até dia 30 de setembro as indicações para o Prêmio Direitos Humanos. Qualquer pessoa pode fazer indicações através do http://portal.sdh.gov.br/
2. O 19º Entlaids ocorre de 4 a 8 de novembro, em Brasília.
3. Parecer que elaborei, a pedido do Conselho, para o livro A estratégia, foi encaminhado ao Ministério Público Federal. Segundo a SDH, o Ministério decidiu encaminhar a questão para a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Rio de Janeiro, cidade na qual o livro foi editado no Brasil;
4. Toni Reis, da ABGLT, pediu afastamento do Conselho Nacional LGBT. No ofício, disse que foi nomeado para trabalhar no "projeto de Apoio aos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil, para a realização de levantamento de experiências exitosas, europeias e brasileiras, de acolhimento da população LGBT vítima de violência e de enfrentamento da homofobia." O suplente Julian Rodrigues assumiu a vaga de Toni Reis no Conselho.
Próxima reunião ordinária do Conselho está marcada para ocorrer dias 27 e 28 de novembro de 2012.
Leandro Colling
Presidente da ABEH (mandato 2011/2012)

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